MOMENTOS DE REFLEXÃO E APOR SOBRE UMA CORONACRISE
No meu recolhimento social estou a fazer reflexões sobre o desespero e a aflição das pessoas diante dos casos graves decorrentes da pandemia e aproveitei para atualizar minhas mensagens e, como parte desta ação, retornar a este Blog. Isto me fez recordar um case que discutimos em programa da disciplina Marketing no qual duas empresas disputavam um mercado na África. O produto era calçados e as empresas enviaram seus traders para tentar ganhar o mercado. O primeiro vendedor investigou o nível dos consumidores da região e os dados coletados indicaram que o povo não gostava de usar calçados. Enviou um fax para a matriz dizendo para não enviar amostras dos produtos porque não conseguiriam ser vendidos. O segundo vendedor ao foi mais curioso e começou seu estudo do comportamento do povo pelo nível de necessidades de higiene e proteção e descobriu que a venda de calçados seria uma solução viável e passou um fax para a matriz pedindo para enviar muitas amostras para serem experimentadas pelo povo. O resultado foi um mercado promissor para exportação de calçados. Assim são as oportunidades. É no momento de crise que os empreendedores proativos conseguem aproveitar oportunidades para negócios. O desespero, a euforia e o pânico gerado pelos interesseiros esquerdopatas para deixar o povo atordoado como cego em tiroteio tende a inibir a criatividade e a capacidade de APOR (Atenção-Percepção-Observação-Reflexão) do povo e levando-o a recolher-se como forma de proteção contra o COVID-19. Errado. Este é o momento de fazer com que todos se movimentem, acionem suas energias com bastante APOR e evitem o déficit (D) de atenção (DAPOR) para aproveitarem as oportunidades e promover o crescimento da economia. O deputado Dr. Osmar Terra em um importante pronunciamento na Câmara dos Deputados deixa bem claro por sua experiência e mais de cinco trabalhos publicados sobre epidemia e pandemia - como foi o caso H1N1 a qual ele foi um dos primeiros a realizar atividades para superação - que as medidas que estão sendo tomadas de bloquear a movimentação das pessoas e o fechamento das unidades comerciais das cidades é um erro.
Em meus momentos de reflexão recolhido a pedido de minha família percebi que estamos diante de uma CORONACRISE e deveríamos nos esforçar para rastrear as oportunidades de negócios e contribuir para o crescimento da economia. A pandemia pode até existir, mas pelas informações sérias que tenho colhido aqui no Brasil está morrendo mais gente de dengue e outras pragas tropicais do que por causa deste vírus e não vi ou li nenhum alarde e desespero por isso. Diante disso, proponho que tratemos a situação como uma crise para despertar nos empreendedores proativos a percepção de oportunidades. E se vamos nos recolher pelos próximos 15 ou 30 dias que possamos aproveitar para ler, interpretar desenvolver, estudar e refletir (L.I.D.E.R.) para aumentar nossa capacidade de discernimento e de APOR, e sugiro como um bom motivo ler meu livro: L.I.D.E.R. Ideias e Princípios já na livraria e na banca central entre outros como a Peste de Camus, O Processo de Kafka, a Inteligência Espiritual de Wolman, A Filosofia de Paradigmas de Bjur e Caravantes. Desliguem as antenas televisivas e as mídias comprometidas com a derrocada da economia do país para justificar posicionamentos político-partidários de interesse próprio os quais não se interessam pelo desenvolvimento do país. Para concluir recebi uma informação importante. O governo Trump está enviando para o país cerca de US$80 bilhões para que o governo brasileiro reforce o caixa no combate ao COVID-19, Enquanto isso os pseudo-brasileiros estão propagando um vírus mais grave que é voltado para a derrubada do governo. Enfim, estamos sempre caminhando na contramão da história quando deveríamos estar promovendo a cooperação, a solidariedade e a sinergia positiva entre as pessoas.
sábado, 21 de março de 2020
domingo, 25 de novembro de 2018
Da Economia Material à
Economia Informacional: Novos Desafios para a Administração
Ensaio
Adm.
Jovino Moreira da Silva, M. Sc.
APRESENTAÇÃO*
Fazia um ano (1996) que tinha concluído o
mestrado em Administração com a dissertação: A Administração Estratégica e a Visão Empreendedorial no Processo de
Crescimento e Desenvolvimento Industrial – Um Estudo de Caso. As
experiências vividas em cinco anos viajando para Belo Horizonte, inicialmente,
a fim fazer o curso de pós-graduação LS na PUC/BH e, em seguida, frequentar o
curso de mestrado presencial na UFMG, contribuíram muito para o aprendizado e
para ampliar a rede de amigos e colegas que ganhei naqueles períodos.
O retorno à sala de aula nos cursos de graduação
permitiu-me aplicar o que aprendi e a compartilhar os conhecimentos adquiridos,
bem como a me entusiasmar para a elaboração de projetos para pesquisa e a
construção de textos e artigos e aplica-los junto aos alunos.
Nas minhas andanças pelo Sudoeste e Oeste da
Bahia, ao fazer uma das muitas arrumações em papéis e livros durante uma das
minhas paradas, achei este texto de 1996, portanto 21 anos após o retorno às
aulas, que representou o primeiro material impresso em forma de breviário para
uso e discussão de alunos e colegas do curso de Administração.
O texto tem como título: Da Economia Material à Economia Informacional: Novos Desafios para a
Administração, impressão de 1996, como parte das atividades que resultaram
na criação do NEPAAD – Núcleo de Estudos e Pesquisas Aplicados à Administração.
O núcleo tinha como objetivo (entre outros) incentivar e estimular os colegas a
fazerem projetos de pesquisa e extensão bem como a escreverem artigos, ensaios
e livros, o que, infelizmente, não era bem o que eles queriam e, por isso, o
projeto de editoração ficou neste primeiro e único ensaio.
Porém não desanimei e, ainda que sozinho
organizasse e dirigisse o núcleo, continuei provocando os colegas e alunos,
desta vez criando uma revista acadêmica, uma das primeiras criadas na UESB –
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia: os Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas que, felizmente, continua
ainda a ser editada pelos colegas que assumiram o NEPAAD, alguns deles
ex-alunos agora na condição de professores e com títulos de pós-graduação. Já
estamos com mais de 12 números editados e colocados à disposição dos
profissionais, acadêmicos, professores e pesquisadores locais, regionais e
nacionais. Isto me alegra, me anima e me entusiasma.
E foi com base neste entusiasmo que resgatei e
passei a reler o ensaio que escrevera há 21 anos. Senti-me como se estivesse
escrito recentemente quando identifiquei no texto linhas de ideias e
proposições que penso serem ainda atuais e válidas, além do que o título também
não perdeu o seu valor diante do que se tem produzido no país e em várias
universidades mundo afora.
Diante de este olhar atual sobre um estudo do
passado, resolvi fazer um reestudo e uma revisão de conteúdo para atualiza-lo e
disponibiliza-lo para os colegas e alunos reviverem comigo as ideias que foram
escritas no alvorecer das mudanças que vieram a ocorrer no campo da tecnologia
e informação, economia e administração. Foi um grande desafio reescrever um
breviário que já se encontra esgotado. Além de algumas correções textuais, fiz
uma revisão de minha tese original que havia ilustrado através de quatro
estágios relacionados com dois polos ou variáveis: conhecimento e senso comum,
a envolver o que chamei de quatro macrorrevoluções
socioeconômicas que promoveram o desenvolvimento humano no planeta até
aquela década.
Também aproveitei para acrescentar outros
capítulos nos quais procuro mostrar novas ideias aplicadas ao tema e aos novos
momentos de utilização plena das TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação),
tema que já discutia nos tempos de mestrado e que continuei a expressar em
aulas de algumas disciplinas, como a Administração Brasileira. Trata-se esta de
uma disciplina que sugeri introduzir no currículo do curso da UESB, a
contragosto de alguns dos meus pares, para provocar a criatividade no sentido
de um estudo mais aprofundado sobre o estilo do brasileiro administrar seus
negócios.
Espero que a atualização deste texto possa
contribuir para discussão, análise e aprendizagem dos alunos dos cursos de
graduação e provoque nos colegas e profissionais o estímulo a críticas
criativas bem como também a pesquisarem mais, escreverem e publicarem suas
ideias para melhorar ainda mais o desenvolvimento e aplicação dos conhecimentos
das instituições locais e brasileiras.
(*) Apresentação
para a edição do livro
Vitória da Conquista, 2018
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
PARA
ENTENDER POSSÍVEIS CAMINHOS DE UMA ECONOMIA PARA O BRASIL
Sempre que ocorre uma mudança
de paradigma todas as ações e atividades começam do zero, ou seja, não mais se
tem ou demonstra interesse em repetir os padrões que já foram utilizados pelo
velho paradigma. Esta premissa deve ser considerada importante para todas as
áreas que representam a dinâmica do desenvolvimento social, econômico,
administrativo para uma empresa, uma comunidade, um pais.
Uma questão que ressalta desta
premissa para entender as possíveis mudanças que podem ou devem ocorrer no
modelo econômico brasileiro refere-se ao velho conceito incrustado no processo
decisório de, em lugar de mudar as coisas, dar preferência a reformar as
coisas, e com isso a mudança de paradigma parece ficar adiada para um outro
momento e dar preferência a arrumar o ambiente, mudar de lugar ou rearranjar os
padrões em uso. Isto leva a perdurar com o mesmo do mesmo e nunca em querer
mudar o mesmo por algo novo, diferente e sem qualquer resquício do modelo
anterior.
Assim, a mudança de paradigma
parece não ser percebida porque “tudo continua como antes na Vila de Abrantes”
e, como nada parece mudar, logo os fatores que tornam a Economia atrelada a
conceitos sem qualquer valor estratégico, os padrões econômicos tendem a se
tornar as colunas permanentes que não contribuem para um desenvolvimento capaz
de recuperar a competitividade do país. Como, então, recuperar ou desenvolver
uma estrutura competitiva sem levar em consideração mudanças em lugar de
reformas?
Compreender esta questão nos
conduz a identificar os possíveis caminhos que poderão nos levar a acreditar
que ocorrerão mudanças no modelo socioeconômico do Brasil, a começar pelas
propostas e projetos que surgirão nessa nova matriz governamental.
O que certamente pode
dificultar a implantação de um novo paradigma para começar do zero todas as
atividades governamentais é o predomínio dos princípios da Economia sobre os da
Administração. A deficiência ou falta de uma competência administrativa para
atender a uma competência fortemente econômica pode dificultar a realização de
projetos com conteúdo estratégico de que tanto carece a gestão pública do
Brasil.
O fato de, até então, existir
mais valorização das propostas criadas por economistas – sem desmerecer suas
competências – no ambiente governamental, deixando em plano inferior ou sem
considerar as competências dos administradores como um dos pilares importantes
para criar, promover e implantar estratégias e táticas governamentais em prol
das mudanças de que carece o Brasil, tem proporcionado o atraso do país em
todas as áreas prioritárias entre as quais estão: indústria, pesquisa e
desenvolvimento, educação, saúde e segurança nacional.
A leitura e interpretação da
questão acima apresentada pode ser mais bem interpretada pelos administradores
do que pelos economistas, porque os primeiros buscam meios e recursos para
promover mudanças e agir no conjunto essencial dos problemas, para produzir
resultados efetivos, enquanto os segundos preferem promover reformas sem se
preocupar com a essência das estruturas que são de forma rápida reformadas para
atender apenas a ajustes de índices macroeconômicos.
Juntar Administração com
Economia e Política pode resultar em efetividade para a governabilidade do
país, enquanto que Economia e Política sem Administração, nas condições atuais
de um mundo 4.0, tende a levar o país a permanecer sempre em atraso em relação
à dinâmica do desenvolvimento econômico mundial. Superar este atraso e começar
a recuperar a capacidade competitiva em todos os sentidos: local, regional,
nacional, internacional e global representa o principal investimento de energia
para caminhar com uma economia para o Brasil atual, começando do zero e sem
olhar demais pelo retrovisor para não cair no dilema de paradigmas. Entender de
modo efetivo e sem reatividade ideológica estes caminhos deve ser condição
precípua de governança para os que se propõem dirigir o estado nacional e todas
as suas partes operacionais.
O processo decisório dentro do
sistema de governabilidade é mais efetivo e alcança melhores resultados essenciais
quando é realizado por Administradores do que por Economistas porque o
administrador trabalha no nível essencial das ações e atividades enquanto o
economista trabalha com o nível periférico (macroeconômico) ou com a superfície
e partes do sistema organizacional (microeconômico).
A Economia se detém com muita
energia na identificação dos recursos e as razões de sua escassez desenvolvendo
índices econométricos para mostrar as áreas em que se localizam o ganho ou
perda de eficiência econômica em sentido micro e macro, sem apresentar soluções
para que essa deficiência seja efetivamente corrigida e possa agregar valor ao
conjunto ou totalidade do sistema governamental.
Por outro lado a Administração
se ocupa com a aplicação eficiente e eficaz dos recursos, a fim de alcançar
resultados que possam agregar valor ao sistema governamental em sua amplitude
micro e macro de gestão e governabilidade.
Entender os possíveis caminhos
que contribuam para a realização de uma economia é importante para que se possa
realizar uma dinâmica administrativa capaz de utilizar com eficiência, eficácia
e efetividade os recursos agregados ao sistema governamental, a fim de alcançar
o melhor retorno em forma de benefícios para a sociedade.
Vale salientar em sentido
conclusivo que a fonte dos recursos que são captados pelo estado provém do
sistema industrial, do desempenho dos serviços e das contribuições da população
economicamente ativa, uma vez que o estado, em si, não é produtivo e nem
gerador de bens e recursos, mas, apenas, consumidor. As tentativas feitas com a
criação de empresas públicas e estatais sempre resulta em prejuízo para o
desenvolvimento e desempenho do sistema privado e individual que é o real
gerador de recursos financeiros que vai dar sustentabilidade ao estado.
A privatização de algumas empresas
estatais tende a tornar a governabilidade mais eficiente e o estado mais
eficaz, mas o modelo de tornar privado o sistema industrial do estado só tem
validade se é realizado com ética, seriedade, transparência e sem proposições
corruptivas. Algumas empresas estatais que foram privatizadas no Brasil saíram
de resultados negativos, com prejuízos que eram cobertos com recursos
financeiros do país, para um nível de resultados positivos sob a direção da
iniciativa privada que resultaram em contribuição de benefícios para o tesouro
nacional e o equilíbrio das contas públicas e os balanços de pagamento do país.
Portanto, esses recursos devem
ser bem administrados para evitar que se esgotem sem possibilitar ao estado
consumidor promover o ressarcimento da parte líquida do que foi aplicado para o
contribuinte, pela utilização eficiente do que for arrecadado ao longo da
gestão governamental e um dos caminhos que podem contribuir para que este
paradigma se concretize é, entre outros, desenvolver um plano de privatização
de empresas públicas e privadas que seja implantado com seriedade, ética e
transparência e sem margem para a perturbação econômica como as técnicas de
corrupção que assomaram em processos já realizados no Brasil.
sexta-feira, 12 de outubro de 2018
Novos espaços, Novas ideias
Trabalhar um novo artigo é interessante, sobretudo porque estou a procurar, neste
espaço, contribuir para que temas de interesse acadêmico e profissional sejam
divulgados e facilitados para o conhecimento de colegas, amigos e estudantes.
Pretendo, periodicamente,
continuar a apresentar aqui, entre outros, assuntos relacionados com: Coopropriedade, Coocriação,
Coointeligência, Coopreendedorismo, Prospectiva, Estratégia e resumos de
artigos e trabalhos de estudo e pesquisa. Também pretendo publicar textos
produzidos em coprodução com estudantes e colegas docentes bem como textos de
convidados que estejam relacionados com as palavras-chave e os objetivos deste
Blog.
Também trataremos de temas
relacionados com Holismo, Teoria de Sistemas, Teoria da Complexidade,
Administração Integral e outros que estão direta e indiretamente relacionados
com os assuntos principais listados e com as áreas de conhecimento que trabalho
nos cursos de graduação e pós-graduação.
Nesta oportunidade falarei um
pouco sobre Coopropriedade. Trata-se
de um tema que estou trabalhando e em breve divulgarei detalhes neste e em outros Blogs. A
ideia de Coopropriedade (que também pode ser lida como Copropriedade) começa no
princípio da Mutualidade e da Sinergia entre as pessoas e do debate sobre o fim
da propriedade individual negativa como é conceitualmente definida no contexto
da Economia e nas normas capitalistas.
O fim da propriedade individual como proposto por P.-J. Proudhon em 1844 ficou praticamente fora do discurso acadêmico e científico, entre outros motivos, em virtude da intensidade como o reducionismo econômico, fortalecido pelo intenso poder do capitalismo, fixou o modelo mental da riqueza, a partir da propriedade individual de bens e serviços em lugar da posse distributiva entre as pessoas, como acontecia antes da dominação plena do espaço territorial pelos impérios e baronatos que fortaleciam o feudalismo.
A Terra como um dos principais fatores econômicos de riqueza, como um bem extenso, estimulou e fortaleceu o modelo mental que formou o paradigma do individualismo negativo, o qual tinha como principal requisito o domínio de um indivíduo sobre os bens materiais (tanto naturais quanto manufaturados), que lhe serviam como patrimônio e riqueza devidamente legalizados pelos poderes jurídicos dos países.
Pode-se dizer que a Terra foi um dos primeiros paradigmas estratégicos que contava com o subsídio das religiões para a afirmação da propriedade, que já estava se consolidando no ambiente organizacional desde a primeira revolução socioeconômica (Revolução Agrícola), quando um indivíduo cercou uma área plantada e gritou para os membros da tribo: "Esta é minha propriedade. Eu sou o dono desta área de terra". Isto há mais de 10 mil anos passados.
A propriedade como um marco social e econômico foi (e ainda é) responsável pela desorganização humana e geradora de violência em todos os cantos do Planeta. Violência inclusive com o próprio planeta, promovendo a destruição de várias bases de sustentação da vida no sentido de microvida, mesovida e macrovida que habitam o espaço terrestre. Esta violência gerada pela acumulação da propriedade como forma de riqueza extravasa a ponto de tornar-se o indivíduo não apenas ecoviolento, mas (o que está se tornando perigoso) bioviolento e socioviolento.
Estas formas de violência podem ser minimizadas na medida em que a propriedade for sendo extinta e se tornando coopropriedade, quando, então, o homem se tornará mais humano e mais integrado econômica e socialmente. Este tema, apesar de não estar ainda bem discutido e aceito no ambiente científico (e acadêmico), é muito rico e demandará muitas ideias e proposições criativas para se tornar não mais uma utopia: O Fim da Propriedade.
sábado, 16 de setembro de 2017
PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO L.I.D.E.R.
IDEIAS E PRINCÍPIOS
INTRODUÇÃO
Realizei
leituras e escrevi ou criei um número significativo de trabalhos, na forma de
consultorias para apoiar os micro e os pequenos negócios, bem como as
cooperativas em geral. Também facilitei a recuperação de comunidades, na forma
de centros de oportunidades de negócios e coletivos de negócios para o
desenvolvimento sustentável autogerido.
Pode-se dizer
que essas ideias começaram na dissertação de mestrado, quando investiguei a
situação de um distrito industrial e apresentei e discuti um redesenho das ideias
defendidas por alguns economistas, sobre desenvolvimento de polos e distritos
industriais, segundo uma visão estratégica e empreendedorial da Administração.
Após os devidos estudos e pesquisas, consolidei as ideias na tese que chamei de
Ciclo GCEQ (SILVA, 1995), sigla
derivada das palavras: Governo,
Ciência e Tecnologia, Empreendedores e Investidores, e Qualidade e Mercado. Em verdade o
ciclo formaria a sigla GCEM, mas substitui o M de Mercado por Q de Qualidade para focalizar a qualidade
de produtos e serviços além da qualidade
de consumo e de vida como uma das finalidades de uma empresa. Preferi Qualidade
em lugar de Mercado porque esta
palavra, para mim, traz a ideia de quantidade e espaço fechado, quando o que me
interessava era a ideia de desenvolvimento além da posição apenas econômica
quantitativa (micro e macro) como aprendi nos livros dos teóricos que estudei.
Ao contrário de usar o Mercado percebi que a Qualidade oferecia uma
significação mais holística para o propósito que tinha em mente. Também levei
em consideração, naquele momento, que “mercado” dava uma ideia de lugar apenas
lógico, funcional, racional, material e linear, e isto ia de encontro a um
enfoque de administração dinâmica e integral defendida em meus estudos, e não
era bem assim que eu orientava os constructos de minha tese.
Ao reestruturar
a tese de Jorge SÁBATO (1970 [2004, p. 41]), economista argentino, denominada Triângulo de Sábato da Economia para o
desenvolvimento, meu trabalho de mestrado não se resume a mais um “tratado”
de economia; mesmo porque a economia apenas serviu de subsídio para posicionar
uma visão empresarial e estratégica no desenvolvimento de distritos industriais
e, ainda mais, porque a Economia é uma das disciplinas importantes que
subsidiam os Princípios Gerais da Administração (PGA).
Pois bem,
naquele trabalho de conclusão do mestrado apresentei ideias básicas para a
discussão de meios e métodos visando o rejuvenescimento, a recuperação e a
reorganização do Distrito Industrial dos Imborés, em Vitória da Conquista – BA
(que foi o objeto de estudo). Uma das ideias poderia, como fruto da pesquisa,
resultar na criação de um espaço para a incubação de negócios de acordo com as
linhas de estudo, pesquisa e eixos de cadeias produtivas locais e regionais que
pudessem apresentar condições para a criação de processos industriais. Isto lá
pelos idos de 1990-1995.
Naquele momento
pouco se falava na Bahia em empreendedorismo, incubadora de empresas, cluster, arranjos produtivos locais
(APL) e outros termos que correspondiam a novas ideias de desenvolvimento
econômico. Contudo, não se deve esquecer a grande contribuição que foi dada
pelo saudoso Rômulo Almeida[1],
cujas ideias não foram bem entendidas à época em virtude de orientações
ideológicas que predominavam entre os pensadores, economistas, intelectuais e
políticos brasileiros (em especial os baianos). Rômulo Almeida, assim como Luiz
Tarquínio, nunca aparece ou é citado nos textos escolares e muito menos na
História da Bahia.
Não faz parte de
este livro discutir orientações político-partidárias e nem economia, uma vez
que, mesmo sem concordar com qualquer dessas orientações, o escopo do Sistema L.I.D.E.R., como proposta para
o desenvolvimento humano no ambiente negocial, vai além das ideologias vigentes
no mundo atual.
As ideias sobre
empreendedorismo e incubação de empresas começavam a tomar corpo nas
universidades e centros culturais no Sul e Sudeste do Brasil a partir dos anos
80. Um dos primeiros trabalhos publicados no país foi o livro de Degen (1985).
Começam, assim, as primeiras discussões sobre as necessidades de transferência
de tecnologia da academia para as empresas e, entre os iniciadores, no sentido
tecnológico, estava a Universidade Federal de São Carlos.
Pouco se falava
ou discutia sobre Spin-Offs[2]
no ambiente acadêmico e as Empresas Juniores ainda não se revelavam com valor
prático. O empreendedorismo de base tecnológica era apenas uma pequena luz, de
algumas ideias e projetos, que aparecia nesse ambiente com poucas publicações
sobre estes temas.
Não quero aqui
dissertar sobre esta história ou recopilar minha dissertação de mestrado (a
qual poderá ser revista para publicação). O que interessa nesta apreciação
preliminar é a possibilidade de começarmos a falar uma linguagem
empreendedorial e cooperativa própria e que seja interessante para os
sonhadores e visionários de nossas regiões paradoxais. Temos que discutir sobre
uma Nova Administração que seja menos Mecânica que a atual.
Isto é de
significativa importância para que se possa conduzir, com Seriedade, Amor,
Paixão, Atitude e Determinação, um processo de industrialização no Brasil. Em
especial na Região Nordeste, a qual existe hoje como um mero mercado consumidor
de produtos e serviços produzidos no Sudeste e no Sul. O que se pensa agora é
como superar a atual letargia negocial que tem como base apenas o eixo
mercantil, associado ao de serviços, com qualidade duvidosa; a este se adiciona
o eixo agropecuário, em especial de base latifundiária, para produzir
commodities, o qual não oferece condições suficientes para se reduzir a pobreza
e melhorar o IDH dessas regiões, porque apenas estimula e reforça o sistema
feudo-patrimonialista dinástico dominador e concentrador de renda.
Trabalho com um
projeto que não visa à distribuição de riqueza (conceito da economia política liberal
e da política ideológica socialista), mas a Redução da Pobreza (conceito que considero de base administrativa,
cooperativista, mutualista, libertária, socioeconomista e empreendedorial).
Este Projeto envolve conhecimentos transdisciplinares e não apenas
deterministas, fragmentários, pragmáticos ou meramente acadêmicos (sejam de
economia, sejam de sociologia), para alcançar objetivos efetivos nas diversas
comunidades regionais.
Neste livro
apresento ideias e princípios que poderão contribuir para projetos capazes de
promover a reconstrução das comunidades no sentido que denomino de Administração de Comunidades
Empreendedoriais Cooperativadas com foco, sobretudo, na situação
brasileira. O modelo de sistema que discuto tem por base o acrônimo L.I.D.E.R. Este acrônimo coincide com a
palavra líder usada em Administração, Sociologia e Psicologia. Contudo, seu
conteúdo não irá tratar deste tema de forma específica embora tenha relações
com princípios de liderança. Neste projeto utilizo conceitos sustentados por
uma interessante orientação científica como postulada, por exemplo, por
Wheatley (2002) e outros pesquisadores, tais como Goleman; Boyatizis; Mckee
(2002), Santos (2000), Beauport; Diaz (1998), Maturana (2002), Chibber (2003),
Edvinsson (2003) e Parikh (1997) no caso de liderança, criatividade, intuição,
capital intelectual, etc.
Vejamos, então,
o conteúdo desta proposta de Sistema
L.I.D.E.R., cujos elementos-chave apresento no quadro abaixo. O quadro
mostra os domínios a serem tratados em um projeto voltado para o
desenvolvimento de sistemas humanos:
Sistema
|
Significado (ou Arte)
|
L
|
Ler
|
I
|
Interpretar
|
D
|
Desenvolver, Desaprender
|
E
|
Estudar
|
R
|
Realimentar (Reaprender, Refletir)
|
O
desenvolvimento de comunidades, dentro do que vem especificado em minhas ideias,
requer que ocorra uma transformação de base firme e sólida, através de
propostas e planos capazes de gerar projetos consistentes.
Para se aplicar
bem este sistema é interessante haver uma estrutura educacional que siga os
caminhos de uma educação integral (tema de outro livro em elaboração). Um dos
déficits de crescimento e desenvolvimento registrados no Brasil está na
produção de conhecimento útil aplicado aos negócios e disponíveis para as
comunidades produtivas. Sem conhecimento útil e essencial não mais se
conseguirá desenvolvimento em uma infossociedade.
Isto irá
requerer uma mudança. Começa no sistema pedagógico vigente no país, denominado
em meus artigos de Pedagogia do Não ou de Almoxarifado, até a introdução e
iniciação de um sistema capaz de substituí-lo no nível de educação adulta, que
chamo de Andragogia Empreendedorial
Cooperativada (AEC). Daí o ser
humano poderá evoluir ao nível da Heutagogia que é o domínio, por si mesmo, do
conhecimento e das soluções e decisões para os problemas pessoais e
organizacionais e pode servir de base para um sistema de autogestão e autonomia
organizacional. Este autoconhecimento, em alguns casos, pode ser aceito como
“Notório Saber”.
Uma mudança no
modelo pedagógico para a educação de adultos (que priorize a Andragogia e a
Heutagogia) é de suma importância (e urgência), sem o que não terá nenhuma
validade os esforços despendidos através de projetos como este de Sistema L.I.D.E.R.
e outros importantes que podem contribuir para uma mudança na organização. Sem
explicitamente definir o seu sistema de aprendizagem como heutagógico, os
japoneses já praticavam, antes e depois da II Guerra, um sistema “pedagógico”
diferenciado, o qual teve papel decisivo no desenvolvimento socioeconômico que
ocorreu naquele país (VOGEL, 1982). É possível que uma forma de coletivismo
positivo e proativo tenha ajudado para tal transformação se processar.
Não poderemos ter
comunidades desenvolvidas sem Educação,
sem Cooperação e sem uma filosofia
de negócio que escolhi chamar de Empreendedorismo.
Sim. Porque, antes de tudo, empreendedorismo é uma filosofia de negócio e não
um conhecimento meramente científico, racional, pragmático, capitalista ou
determinista como vem sendo apresentado por “gurus” da Administração e da
Economia, em especial aqueles engajados em ideologias políticas atuais.
O mesmo acontece
com o Cooperativismo, o qual discuti em vários trabalhos e resultados de
pesquisas apresentados nos Encuentros
Latinoamericanos de Cooperativismo, realizados na América Latina com o
incentivo da ACI (Aliança Cooperativa Internacional).
Escrever sobre
empreendedorismo seguindo uma visão superficial, mecanicista, linear e
pragmática não é difícil. Neste caso empreendedorismo
assume os mesmos conceitos de empresarialismo
e está subentendido na técnica pragmática de management.[3]
A complicação
ocorre quando se procura falar de empreendedorismo a partir das competências e habilidades
essenciais, intuitivas e humanas do indivíduo; isto se dá em especial quando
envolve a relação pensamento-aprendizagem e vai somar-se em uma educação
integral, através de uma metodologia educacional que ainda não é bem aceita
pelas academias.
Nesta segunda
premissa o empreendedorismo assume conceitos de uma filosofia. Esta premissa é
a que me interessa neste trabalho e embasa a discussão do Sistema L.I.D.E.R.
como uma proposta para o desenvolvimento humano. Vale salientar que os
empresários de visão puramente racional e pragmática não estão interessados em
desenvolver pessoas dentro de suas empresas e preferem, quando muito, apenas
dar-lhes algum treinamento, desde que este coincida com as possibilidades de
auferir maiores lucros em curto prazo. O ser humano nessas empresas ainda é
considerado como um recurso no mesmo sentido considerado para os demais
recursos.
Nesse sentido,
um Sistema como o L.I.D.E.R. aqui apresentado, só terá aplicação para o
Desenvolvimento de Sistemas Humanos se houver dentro das organizações, em
especial as educacionais (escolas, institutos técnicos, faculdades, etc.),
públicas e privadas, o comprometimento de todos os participantes (sócios,
investidores, diretores, professores, funcionários, estudantes). Também será necessária
a revisão de conceitos administrativos e pedagógicos por todos: coordenadores,
instrutores, facilitadores e gestores dessas instituições e devem cobrir desde as
áreas de conhecimentos básicos até aquelas que cuidam da formação
empreendedorial.
Não é possível
discutir desenvolvimento de sistemas humanos sem discutir em conjunto dentro da
academia desde a formação básica até a superior. Eis porque o sistema
L.I.D.E.R. deve estar presente não apenas nas empresas, mas nas organizações
educacionais.
O Sistema L.I.D.E.R.
é em si também uma metodologia que envolve quatro artes fundamentais e um laço
de controle ou feedback. Como uma
quinta arte, este feedback serve para
estabelecer os padrões de ação e equilíbrio, avaliar o desempenho dessas ações para,
em seguida, recomeçar tudo, sustentar e ampliar o que foi devidamente aprendido,
corrigir os desvios e voltar a aprender, de forma holística.
Seria como
re-aprender tudo com um começar de novo, diferente, não repetitivo e integrador
(o que é próprio da Heutagogia).
A metodologia de
trabalho deste Sistema deve começar com a elaboração de um programa de leitura que leva as pessoas a aprender a Arte de Ler, a qual pode ser
considerada o foco primaz do sistema. Esta arte, a inicial e mais complexa, considero
a mais difícil, pois pela minha experiência, até agora, o que menos nosso povo,
nossos alunos, nossos trabalhadores e até nossos profissionais e gerentes sabem
é LER.
Quanto ao
programa para aplicar o Sistema, deve ser elaborado após se efetuar um
diagnóstico das condições efetivas do desempenho e nível de aprendizagem de
cada empresa, o que nos impede, neste livro, de apresentar um modelo que possa
ser utilizado indistintamente. Um modelo pré-fabricado que nem precise de
retoques para ser implantado nas empresas, como uma receita de bolo.
Não vejo possibilidade
de um plano educacional, que vise o desenvolvimento sustentável de uma
organização, uma comunidade, um estado, um país, quando os atores responsáveis
para colocá-lo em atividade não sabem LER e, muito menos, INTERPRETAR o texto
lido, e poucas pessoas conseguem realmente ser efetivas nesta arte. Inclusive
vive-se sem um domínio efetivo da língua em muitas dessas regiões. No máximo o
que aprendem nas escolas brasileiras é o que o filósofo Arthur
Schopenhauer (1788-1860), expressava
em seu pensamento: “Ler
é pensar com o cérebro alheio em lugar de fazê-lo com o próprio” (SCHOPENHAUER,
2007). Ou seja, nas metodologias em aplicação no processo educacional não
existe pensamento-aprendizagem, mas memorização-aprendizagem de textos e de
respostas dadas em aula pelos professores. Há como que uma significativa
preguiça para aprender a PENSAR.
O que se procura
realizar com este Sistema é superar essa deficiência discutida por
Schopenhauer. Ou seja, superar a leitura que procura imprimir no Pensar de um
indivíduo apenas o Pensar de outro indivíduo, daquele que escreveu ou falou.
Esta superação ocorrerá no momento em que o indivíduo se torna capaz de
substituir a leitura passiva (que
leva a pensar com o pensamento do outro) por uma leitura ativa (pensar com o seu próprio pensamento). Isto é
possível através de um plano que promova a separação entre a leitura
não-essencial e a leitura essencial.
O que faz com
que as pessoas não gostem de ler é a forma (ou método) como a leitura tem sido
imposta nas escolas, ou seja, as crianças são forçadas e obrigadas a aprenderem
a ler sob pressão e castigo. Este método de imposição pela autoridade do
professor é obsoleto e ineficaz, do que resulta o desinteresse do aluno pela
arte de ler e ele carrega este hábito negativo por toda a vida. No Sistema
L.I.D.E.R. a aprendizagem é feita com o consentimento do aprendiz e não por
imposição do consultor ou mentor da organização. Todo ser humano já nasce
sabendo ler, e aqui ler não é necessariamente ou exclusivamente conhecer
letras, alfabeto ou gramática.
Ler neste
sistema está amarrado ao Pensar, ao Sentir e ao Imaginar. Isto nos mostra
vários tipos de leituras que não apenas a de textos impressos ou livros. Em
resumo podemos dizer que o cego lê e todos os seres humanos leem antes de se
alfabetizarem. Deste modo, listamos algumas formas de leitura que poucos
consideram como tais: sensível, auditiva, táctil, visual, olfativa, e outras
relacionadas com os sentidos e sobre os sentidos.
Um plano
educacional deve ser desenvolvido por organizações de leitura e aprendizagem,
em especial como Co-Educação (Educação com
o outro e não sobre o outro), nos
casos de instituições de ensino, tendo em vista tornar-se necessário foco e
concentração de ideias, objetivos e metas sem dispersão de recursos. Além
disto, o plano deve primar pela liberdade do aprendiz e não deve ser coercitivo
ou forçado para que ela possa, por si mesmo, escolher a forma de aprender e
sobre o que deve aprender.
Como ocorre hoje
com a gestão nos atuais programas de educação pública e privada, percebe-se como prática a aplicação de
recursos em atividades não-essenciais. Por isso o Sistema L.I.D.E.R. deve,
sobretudo, ser implantado com certa ênfase nessas organizações voltadas para a
educação, o ensino e a formação de crianças e jovens, a fim de que seus
resultados possam refletir depois nas famílias, nas empresas, nas comunidades,
na sociedade como um todo. Vale salientar que o Estado não é uma Organização
pura e simples. Ele é formado por organizações.
Além das
organizações de ensino, as empresas privadas e públicas precisam deste Sistema
para manter, melhorar ou ampliar suas competências negociais, pelo menos até
renovar seus quadros com as novas gerações formadas nas instituições
transformadas. Como consequência, este Sistema passaria à qualidade de
ferramenta de manutenção do desenvolvimento humano das empresas e não mais uma
obrigação maior dos empreendedores, uma vez que contribuir para a qualidade do
conhecimento e da aprendizagem passaria a ser parte própria da cultura
organizacional.
A
metodologia educacional atual não contribui muito para a implantação deste
Sistema porque ela não acompanha o desenvolvimento dos negócios no mundo
empresarial. A educação está divorciada do desenvolvimento socioeconômico e
empresarial e, em especial, do desenvolvimento cooperativo e empreendedorial e
mais direcionada para princípios ideológicos que distorcem a realidade em
proveito próprio.
Como
o desenvolvimento de negócios está à frente do educacional e os sistemas
humanos nas empresas estão praticamente estagnados em termos de capacitação e
da especialização por tarefas – apesar de utilizarem programas de treinamento
–, somente as empresas que adotaram projetos mais avançados para desenvolver
seus colaboradores conseguem estar à frente da concorrência em vantagem
competitiva. É possível que resida nesta premissa o lento e até medíocre desempenho
das organizações produtivas do país. Por isso a introdução de um programa para
desenvolvimento de sistemas humanos, tendo como foco metodológico o Sistema L.I.D.E.R.,
pode possibilitar, em especial para as micro, pequenas e médias empresas, um avanço
significativo em termos de negócio e assim torna-las organizações de leitura e
aprendizagem.
A aprendizagem da
Arte de Ler tem por objetivo levar o
ator (aluno, trabalhador, empreendedor, empresário, professor, político) a
aperfeiçoar os conhecimentos sobre a língua portuguesa – atualmente um dos
entraves na competitividade mercadológica da maioria das empresas – no caso do
Brasil. O mesmo se verifica com a língua espanhola, no caso da América Latina.
O domínio dos idiomas é fundamental para ampliar as Habilidades Essenciais e, como
consequência disto, as competências dos Sistemas Humanos.
Daí a
importância de se lutar por uma linguagem integral que não apenas enfatize o
falar do senso comum vulgar, mas que possa elevar a capacidade de comunicação entre
as pessoas e os grupos sem parecer sofisticação e nem erudição.
Não sabemos falar nossa língua portuguesa.
Esta é uma realidade que somente as pessoas sábias admitem. Este é um dos
pontos críticos e fracos que ameaçam nossa participação na vida profissional,
sobretudo no ambiente negocial do país e do exterior.
Falar
corretamente um idioma requer que a pessoa domine certa quantidade de palavras
ou possua um vocabulário básico formado por algumas centenas de palavras e
expressões (ortográfica e morfossintática correta) que vão além da vulgaridade
e da minimização idiomática. Isto é importante, embora muitas expressões
populares, criadas pela conversação popular, sejam interessantes para as
relações dialógicas, mesmo não plenamente válidas para atividades que requerem
tomadas de decisão dentro de organizações.
O fato de não
termos um domínio do idioma também contribui para retardar o desenvolvimento
industrial, o estudo, a pesquisa, a creatividade
(do latim creare)[4]
– no sentido de Pensar e relacionada à visão integral com o uso dos hemisférios
cerebrais – e a criatividade (no
sentido de Fazer). Isto se estende até a utilização do conhecimento puro,
aplicado (creação) e patenteado (criação), uma vez que o nosso sistema
educacional inibe a habilidade conceitual e a capacidade de criar novas
palavras e conceitos e isto resulta em um ponto fraco que contribui para gerar
o atraso socioeconômico do país. Podemos ainda dizer: no primeiro caso (crear),
tem-se algo chamado de euri-criação
(ou criação ampla, neste livro, chamada creação) para diferenciar do segundo.
Este segundo pode ser chamado de esteno-criação
(podemos chamar, neste caso, de criação estreita ou limitada ao fazer).
É importante
salientar neste caso o baixo desenvolvimento da curiosidade, o qual acontece em
razão das deficiências educacionais. Deficiências estas que podemos detectar no
baixo índice de APOR
(Atenção-Percepção-Observação-Reflexão), fácil de identificar tanto nas escolas
quanto nas empresas. Sem desenvolver a curiosidade ocorre uma inibição para crear e isto vai repercutir no futuro
das pessoas e da empresa quando se necessita criar produtos e inovar. Podemos ver tal descalabro no número baixo
de registro de patentes e no desenvolvimento de novos produtos nas indústrias.
No Brasil o verbo criar foi há muito substituído pelo verbo reformar o que
exclui a inovação e os empreendedores inovadores.
Esta deficiência
também contribui para a deterioração das comunidades e o surgimento de líderes
dominadores, além da ampliação do ciclo de violência social, humana e
ecológica.
Nos estudos que
realizamos até agora identificamos como uma das sérias dificuldades para a
formação de comunidades cooperativas empreendedoriais a deficiência das pessoas
em lidar com a habilidade conceitual. Isto sem falar das dificuldades dos
alunos para trabalharem em equipes cooperativas. Como resultado chega-se à
explicação dos motivos ou razões pelos quais não conseguimos introduzir, no que
resta de comunidades no Brasil, as bases de uma Administração de Comunidades
Empreendedoriais Cooperativadas. As pessoas estão por demais condicionadas a
aceitar a coordenação subordinada (que
aplica o poder sobre) e a rejeitar ou não valorizar a coordenação cooperativada (que utiliza o
poder com), porque não sabem Pensar por si mesmas e esperam pelo Pensar do
outro.
No caso de alunos a demanda maior é
por conteúdos apresentados pelo professor com o mínimo de debate e de
questionamento sobre cada assunto discutido. O aluno ainda depende de dominar
oralmente, pela técnica de aprender ouvindo, os conhecimentos ou informações
mínimos para conseguir aprovação nas provas e exames. Ouvir é também uma forma
muito boa de ler, mas ouvir o que o outro (professor) impõe pela sua narrativa
é ficar subordinado à leitura dele com o que se perde a liberdade para Ser
Creativo.
A deficiência na
Arte de Ler resulta, entre outros
fatores, na falta de capacidade de construir textos, de escrever, interpretar, formular
ideias, perguntar e se expressar de forma oral e escrita. E ainda mais, para se
comunicar, negociar, vender, comprar, crear ideias e criar produtos; enfim,
para elaborar normas e leis que possam ser proativas e beneficiem todas as
pessoas e contribuam para o fortalecimento de suas comunidades sejam orientadas para um processo ganha-ganha
sem competição violenta.
A heteronomia
predominante na sociedade brasileira procura promover o individualismo competitivo negativo e inibir o individualismo cooperativo positivo; isso contribui para as pessoas
se preocuparem, primeiro com “o que é meu” sem dar a mínima atenção ao “o que é
nosso”. Mesmo nas comunidades onde existem sinais de coletivismo este só é
preservado em sentido de sistema fechado e sob o controle de algum patriarca,
matriarca, ou preposto religioso; este com o uso de argumentos conciliatórios e
dogmáticos procura propor contornos de bom relacionamento e evitar os conflitos
possíveis entre as camadas microcoletivas que se digladiam, e busca prevalecer
suas ideias ou sobrepujar outros grupos.
O senso comum vulgar (SCV) – fruto de
certa forma do senso catequista das religiões –, sozinho não tem mais condições
nem força para proporcionar às pessoas os recursos comunicacionais mínimos para
sobreviverem no ambiente globalizado/glocalizado em que nos encontramos hoje e
a partir de agora para os futuros. As pessoas são “educadas” desde a infância
no lar (sob a dominação do patriarca), na escola (sob a dominação dos
professores) e nas igrejas (sob a dominação catequista dos padres e pastores)
para serem obedientes a alguém ou a algum mito e algum rito.
Este senso comum
vulgar foi construído e ainda é sustentado pela instrução e pela oralidade, e
exclui a leitura ou a Arte de Ler como fator preponderante que remete ao
Pensar. Para os poderosos, interessa apenas pessoas que fazem e menos as que
pensam.
Não dá para
sobreviver, agir, atuar, crear, desenvolver, construir, inventar, re-inventar,
re-crear, des-ordenar, des-construir, des-conhecer, criar e mudar as coisas com
o conhecimento dominante atualmente e, assim, enfrentar o ambiente da Terceira
Modernidade (que chamo de Quarta Onda). Para realizar tudo isso se requer
sistemas de Co-Inteligência e muita
Sinergia (Cooperação), e isto só pode ser obtido através de intensa coordenação
não-subordinada ou cooperativa entre as pessoas; este recurso se proporciona,
em sentido primário, pelo Domínio ou Arte de Ler.
A oralidade
sozinha não oferece muitos recursos (no mundo atual) para alcançarmos com
segurança e felizes esta quarta onda (em especial no caso do Brasil, America
Latina, África e Ásia) devido à complexidade da competição. Essa é uma
competição que, a todo o momento, está a superar a cooperação e procura meios e
recursos para evitar a ampliação do conhecimento a ser obtido por/com uma
aprendizagem proativa.
Estamos, hoje,
no Brasil, a fazer uso de conhecimentos que foram criados há mais de duzentos
anos (ou trezentos anos), sem fazer ou dar qualquer contribuição nova para o
amanhã. Como salienta Rodhen (1984):
Há diversos séculos, que a educação
degenerou em simples instrução. Todas as nações mantêm os seus Ministérios de
Educação, mas todas tratam apenas da instrução do ego periférico, intelectual,
a que eles dão o nome fictício de educação humana.
Estamos, hoje,
no Brasil, a pensar com o cérebro de outros, em sua maioria de estrangeiros. Em
outras palavras, estamos sempre sentados (como diria Monteiro Lobato,
preguiçosamente)[5],
a pensar com o cérebro de outros sem dedicar esforços para pensarmos com nosso
próprio cérebro e, pior ainda, a usar de forma errada ideias já pensadas e
criadas por outros no passado. Isto se chama erudição e não sapiência.
Estamos a
copiar, sem nexo e sem reflexão, o que é e foi criado alhures, apenas por ser
mais fácil, menos arriscado, e a julgar ser menos custoso por já estar pronto.
Por isto discordo daqueles que dizem que o brasileiro é criativo. Pode até ser,
mas o resultado de sua criatividade não vai além de artefatos de senso comum
vulgar. Podemos ser até potencialmente criativos, mas somos pouco creativos e o
fazemos apenas para por em prática ações criativas. Criamos mais por imitação
menos por creação.
Ao olhar em
sentido amplo, percebemos que já não valem mais para o mundo atual as
premissas, as propostas, as proposições e as teses do Primeiro Iluminismo ou derivadas delas; teses que formaram os
alicerces da Primeira e Segunda Modernidade. Essas teses só servem, agora, apenas
como valores canônicos para estudos meramente históricos e, quando muito,
acadêmicos, mas sem oferecer contribuições para o desenvolvimento de empresas,
de comunidades, de pessoas, etc..
Embora o Brasil
ainda lute para viver as dádivas do primeiro Iluminismo, o mundo já carece de
um Segundo Iluminismo proativo e
transformativo e não mecanicista, reformista, materialista e desumano; um
Iluminismo capaz de servir de base no sentido de se construir uma Terceira Modernidade, na qual a espiritualidade venha completar as
esferas do Homem Integral de forma efetiva.
O mesmo pode-se
dizer sobre economia, desenvolvimento e crescimento econômico cuja matriz,
formada no Primeiro Iluminismo, foi brutalmente inorgânico, molar,
contaminadora da Natureza e se prolongou até agora marcado por um excesso de
consumismo. Aproxima-se o tempo de um novo paradigma da Economia Orgânica.
Carecemos, no
Brasil (inclusive na América Latina e na África), de uma Nova História e de uma
Nova Ciência para o Século 21 que não esteja fragmentada, nem desprendida
(separada) de uma Nova Filosofia. Um exemplo: a Coréia do Sul só conseguiu
entrar neste novo ambiente e acompanhar os paradigmas gerados pela nova ciência
através da educação, tendo como principais motores a Leitura e a Interpretação;
além do raciocínio lógico e da matemática, que resultaram no Conhecimento
necessário para a transformação, e a elevou de uma posição dependente para
outra interdependente. Neste sentido seguiu o rastro do Japão. O próximo passo
para a Coréia e os países de administração inclusiva é desenvolver a economia orgânica e molecular.
Alguns autores
como G. Hofstede (1983) procuram identificar a defasagem do crescimento e
desenvolvimento entre as nações através do papel exercido pela cultura na
formação das comunidades. É uma discussão interessante e, de algum modo podemos
ver isso, se compararmos as condições socioeconômicas da Coreia do Sul e do
Brasil, tomando por base a renda per capita de ambos em 1970, como mostrado
pelos resultados da pesquisa de Hofstede (1983).
Ninguém nasce
sabendo pensar. Todavia, a hominização se concretiza a partir do Sentir e do
Pensar e, graças a isto, estamos na Quarta Onda. O Pensar é como uma arte que
nós aprendemos enquanto vivemos. Alguns aprendem mais rápido que outros, porém
a maioria se contenta (muitas vezes por desconhecer) com o pensar dos outros e
começam a decorar os pensamentos alheios e a usá-los cotidianamente como guia
para suas vidas. Muitos até acreditam que tais pensamentos são seus (como no
caso de dogmas teológicos). É o processo de alo-educação de que fala Rodhen
(1984). Este processo reduz o indivíduo a um mero recurso subordinado e
dominado pelos donos dos fatores de produção que o utiliza à exaustão e depois
dispensa sem o mínimo de consideração e dignidade.
Para aprender a
Pensar é muito importante a contribuição da Arte de Ler e, através dessa
aprendizagem, a pessoa começa a dominar a Arte de Interpretar. Um exemplo disso
vem da primitividade. As gravuras pictóricas nas cavernas representam o começo
para o Homem aprender a pensar. Ao aprender a ler e a interpretar o ambiente
natural o hominídeo começou a pensar; para isso contribuiu muito a sua
capacidade de observar, perceber, ficar atento e começar a refletir sobre os
fatos, evidências e ocorrências oferecidas pela Natureza Viva. É o começo do
Sistema APOR. Assim começa tanto a organização social quanto a econômica.
Seguiu-se nesse processo a capacidade de imitar e, por analogia, comparar tudo
o que percebia a sua volta; e isso o ajudou a evoluir do estágio primitivo de
sobrevivência para o estágio moderno, de prosperidade, além de contribuir para
ativar um Sistema Imagístico que
veio enriquecer o Crear, a Intuição. O Homem gerou assim um sistema de padrões
para poder enfrentar a diversidade dos ambientes hostis em que vivia. E nosso
cérebro passou a agir de acordo com os padrões vividos, criados e aprendidos.
De Bono (2000) explica isto muito bem.
Assim, o
primeiro passo metodológico do Sistema L.I.D.E.R., que estou oferecendo neste
livro, é aprender a Arte de Ler (igual a não pensar com a cabeça de outros) a
fim de gerar novos padrões proativos. Este é o primeiro desafio que temos como
promotores do desenvolvimento humano e facilitadores, para o resgate da
comunidade como base primeira de sobrevivência e, deste modo, fazê-la atuar
como referência na formação da cidadania, e poder avançar até um estágio de
prosperidade.
Por enquanto,
ainda vivemos em uma fase de neo-primitividade
e materialidade (fase molar) como padrão e referência; agora precisamos mudar
para uma nova fase que pode ser a do homem espiritual.
O estágio de
prosperidade que estamos enfatizando neste sistema não se refere a acumulação
de riqueza mas a acumulação de saberes, conhecimentos atuais, de harmonia com a
Natureza e com os demais seres, é ser creativo, proativo e cooperativo. Prosperidade
é a base do Ser e não do Ter.
Os donos do
poder econômico e político procuram retardar o quanto podem esse processo de
mudança porque eles já perceberam que, quando o Homem Pensa, ocorre uma maior abertura para a Liberdade, o polo
oposto ao Poder, e a agir ao confrontar a heteronomia dominadora.
Trata-se, neste
caso, de uma prosperidade que contribuirá para uma evolução, na qual o ponto central não será mais a propriedade individual
dos meios de produção, nem de latifúndios e nem da livre iniciativa econômica
capitalista egoísta, orientada para a acumulação individual de riquezas e para
o consumismo. Ao pensar individual e coletivamente (ou cooperativamente) o
ser humano tende a mudar, transformar e reconstruir o seu comportamento. Os
meios já não são mais justificados pelos fins.
Para alcançar
este nível superior de vida busca-se a posse compartilhada, mutualista,
cooperativa e libertária que não prejudicará a natureza nem promoverá a
obsolescência programada dos produtos finais resultantes de seus processos
produtivos, como objeto do consumismo para enriquecimento.
O que se busca
agora não é mais o enriquecimento por acumulação de capital (como fator
econômico), mas por acumulação de saber e conhecimento que passa a ser o
principal fator de produção. Este novo caminhar está a exigir um novo Homem que
seja individualista cooperativo e não mais individualista competitivo. Em
outras palavras, este será o melhor caminho para uma economia orgânica, uma economia
molecular, na qual o homem respeita a Natureza e não contribui para a sua
destruição. Não se trata de promover um mero decrescimento econômico como
propaga alguns intelectuais e ideólogos inorgânicos.
Essa nova etapa
histórica do Homem vai iniciar-se com o Decrescimento da Economia Inorgânica e
o Crescimento da Economia Orgânica. Enganam-se os empreendedores e empresários
que acreditam que o atual modelo econômico é definitivo. Nesse modelo atual de
agir os empresários e líderes atuam com o piloto automático ligado como salienta
Adams (In: RENESCH, 1999, p. 197-208).
Não há cidadania
sem comunidade e sem autonomia, e sem liberdade com responsabilidade. Enquanto
isto não é alcançado as regiões permanecerão sob o poder de líderes dinásticos
e patrimonialistas, líderes dominadores, e a mercê de grileiros e de
acumuladores individuais de riqueza. E no caso do Brasil continuaremos
amargando uma economia feudo-comercial dinástica como referência para
crescimento. “Onde há líder, pois, não há liberdade:
o líder é o Poder e a liderança a escravidão. O poder é incompatível com a
liberdade” (LIMA, 1980).
Precisamos criar
uma Comunidade de Leitura e Aprendizagem
e não uma comunidade de copiação e decoração de textos e linguagens atrofiadas
e descontextualizadas, em especial nesta era de enlaces em redes comunicativas
como a Internet, que disponibiliza inúmeros textos e facilita a cópia abusiva
sem as devidas leituras ativas dos mesmos.
Sem comunidade
devidamente atuante e forte, dinâmica e produtiva não temos meios para nos
definir como povo cidadão, nem mesmo como nação; e não passamos de povo-massa à
disposição das elites dominadoras.
Perdemos nossa
referência cultural e de cidadania quando o patrimonialismo feudo-comercial,
sob o comando desses líderes dinásticos, desmontou-a e se apropriou dos limites
externos da Casa Grande, após o fim da escravidão, e transformou essa
apropriação em referência e base importante para o que os antropólogos chamam
de cultura. Mas, qual cultura? Não é possível haver uma cultura sem utopias.
Até agora o que
temos de modelo socioeconômico equivale ao modelo vivido na Senzala da Casa
Grande, ou seja, mudamos de uma cultura escravista que estava concentrada no
poder do senhor feudal, para outra neoescravista que continuou nas mãos dos
mesmos senhores agora na posição de dono do capital feudo-comercial.
Uma referência
cultural própria, construída no âmbito da liberdade comunitária, mutualista e
cooperativista, favorece a construção de uma nação. O fim da escravidão apenas
contribuiu para o surgimento de um novo tipo de escravo: o trabalhador
assalariado.
O conceito de
Nação equivale ao conceito de Cultura. E a referência cultural sempre nasce no
passado, na História onde se encontram os conhecimentos, e com ela podemos dar
ao futuro o sentido desejado. Isto vale para uma pessoa, uma comunidade, uma
empresa, um estado, um país, enfim para qualquer forma de organização. Porém
sem primar por uma erudição que impede de avançar para um presente creativo em
busca de um futuro feliz.
Nas
circunstâncias atuais assinaladas e percebidas existem apenas retalhos de
cultura e de povo neste espaço chamado Brasil. Não existe aquela visão positiva
do futuro, tão necessária para que um povo permaneça com força e crie bases
para a sustentabilidade e a longevidade, em especial porque ainda não
conseguimos construir uma História decente e não segmentada ou fracionada, mas
com modelos próprios. Nosso modelo de educação instrui o indivíduo, treina-o
para tarefas; condiciona-o a ter medo do futuro, a ficar cada vez mais distante
do poder (repetindo com uma nova configuração, com nova roupagem o que havia no
interior da Casa Grande) e a não aceitar a incerteza como base e desafio para a
transformação.
Com as
transformações geradas pelas tecnologias da informação e da comunicação o
tamanho já não é mais fator de competitividade, pelo menos o tamanho molar. O
mundo está encolhendo, está plano no sentido da comunicação em tempo real
(FRIEDMAN, 2007). Os limites estão difusos entre as nações o que leva o grande
a se tornar pequeno como empresa, como país, como organização, a fim de
enfrentar as transformações e seus paradoxos. (NAISBITT, 1994; OHMAE, 1991;
LEVY, 1998).
Somente os
países de cultura consolidada, possuidores de um (possível) individualismo
cooperativo acentuado e coletivismo positivo, e com visão positiva do futuro
prosperaram; os demais países tentaram apenas sobreviver e alguns o fizeram até
muito bem (como a URSS no início de implantação do leninismo, a Iugoslávia, no
tempo de Tito, com seu projeto de autogestão).
Mas esses países
ou aglomerados de estados não prosperaram além do crescimento molar inorgânico
e pereceram como organização e nação; outras estão cambaleando em busca de uma
muleta naqueles países que ainda estão firmes. Assim são as pessoas, assim são
as organizações negociais e assim são os países. Sem foco, sem projeto, sem
hipóteses e metas bem definidas, sem estratégias bem delineadas e apoiadas no
Pensar e no Sentir fica difícil transformar os negócios, os estados, os países.
Para mim, e para
o meu trabalho de facilitador e mentor, começa aqui toda problemática que me
impede a aceitação da ideia retrógrada de desenvolvimento, como aquelas que avaliei
na dissertação de mestrado (e que explicarei mais adiante neste livro), a qual
é difícil de superar sem a produção efetiva de conhecimentos. Porém, não se
trata apenas de conhecimento subordinado, mas de conhecimento cooperativo e
útil (molecular). O primeiro – conhecimento molar subordinado – está sujeito a
uma forma de coordenação subordinada na qual o colaborador não precisa ser
desenvolvido, mas apenas treinado porque alguém: chefe, líder, supervisor, etc.
vão prover os recursos para seu processo decisório. Já o segundo – conhecimento
molecular cooperativo – não precisa de gestão para que possa ocorrer porque ele
é desenvolvido pelo próprio colaborador dentro de um coletivo cooperante ou
conjunto através de cooperação coordenada.
Como professor,
minha maior dificuldade não está no método, na metodologia e nem na qualidade do
material disponível para uso em aulas. Está, sobretudo, na deficiência da
prontidão dos alunos, prontidão esta que não foi devidamente realizada ao longo
dos estágios anteriores, da pré-escola até a conclusão do nível médio. O aluno
atual possui menos capacidade de leitura que o de 50 anos passados, apesar de
possuir mais informação. Infelizmente a metodologia utilizada, na família e na
escola, é baseada na pressão que gera o medo e impede que a criança aprenda em
liberdade e o reflexo disto sentimos na universidade.
O brasileiro
desconhece cada vez mais o seu idioma e domina cada vez menos o seu léxico. O
mesmo digo em relação a gerenciar pessoas, e tenho percebido que as
deficiências não podem ser superadas apenas através de treinamento. Os gerentes
perderam o senso de administrar e, pior, nem sabem liderar; no máximo apenas
confundem liderar com mandar; confundem liderança com chefia ou gestão, e com
isso aumenta ainda mais a distância entre o poder e os subordinados.
Percebe-se nesta
situação que o treinamento como é programado e implantado tem, no máximo, um
papel cosmético; isto é, representa uma operação plástica cujo resultado é um
embelezamento da superfície, é periférico; contribui para as aparências e perde contato com as essências das pessoas; ou seja, não contribui
para a qualidade interna dos colaboradores. Eles se modelam pela metodologia
didático-pedagógica baseada numa “instrução
unilateral do ego periférico, sem uma educação onilateral do homem integral”
(RODHEN, 1984. Destaque do autor). Aqui se resume o uso que faço de crear para o sentido essencial do
desenvolvimento de Sistemas Humanos e criar
para a realização, o fazer, o produzir o que for pensado e para o qual é
necessário o treinamento, a instrução unilateral.
A inexistência
de uma propedêutica cooperativa, empreendedorial, holística para envolver os
iniciantes na formação educacional, não somente em questões lineares, mas,
sobretudo, em questões sistêmicas e laterais, isto sim, dificulta o trabalho de
muitos professores interessados no desenvolvimento e prosperidade do país
através das pessoas.
Já estamos
vivendo em uma Sociedade do Conhecimento e da Informação e continuamos a
investir tempo e saber para modelos de negócios que não estimulam a inovação;
negócios que já não mais existem.
Não estamos
ainda preparados para construir uma inteligência coletiva (LEVY, 1998). Isso é
rapidamente verificado quando o aluno precisa primeiramente ler, interpretar,
desenvolver um trabalho, estudar o seu conteúdo, para depois reconstruir um
texto e os conteúdos associados ao texto trabalhado. Em seguida, dar o feedback (realimentação) do que fez e
produziu, e apresentar tudo isto por meio de redação própria de um novo texto
(um artigo, uma monografia, uma dissertação, ou um ensaio).
Uma prontidão
efetiva realiza a promoção do indivíduo de uma condição de aluno para outra
superior de estudante. Na condição de aluno o indivíduo apenas recebe
informações e dados que são transmitidos por professores em atenção aos
conteúdos das disciplinas.
O aluno recebe,
consegue alguma forma de instrução e aplica o que absorveu durante as aulas nas
provas. Depois esquece ou apenas pouca informação (útil) fica retida. Muitos
concluem seus cursos elementar, médio, superior e nunca chegam a ser
estudantes. Por quê? Diferente do aluno, o estudante representa o estágio
superior que aquele alcança quando consegue transformar as informações
(conteúdos de aula) em conhecimento tácito e implícito (com um Pensar próprio).
O que tem acontecido, até agora, é que
continuamos, na escola, a formar e instruir alunos, na empresa a treinar
colaboradores, enfim em todas as organizações, a tratar as pessoas na condição
de alunas e não de estudantes.
Continuamos, na
escola e na universidade, treinando e instruindo pessoas para serem meros recursos
na vida profissional. E esta é, neste momento, a importância de um projeto de
Sistema L.I.D.E.R.: contribuir com uma transformação de dentro para fora e não
apenas com a operação plástica nas competências das pessoais, a qual valoriza
mais a aparência que a essência.
Embora não
costumo gostar de indicadores estatísticos mecânicos, merece atenção os índices
de desempenho educacional do PISA (Programa para a Avaliação
Internacional de Alunos da OCDE, sigla em inglês), nos quais o Brasil
sempre tem apresentado um resultado crítico que o coloca abaixo de países como
Chile.
O reflexo de
tais resultados é visto na economia, na
política, nas relações sociais, no crescimento da violência, na discriminação e
preconceitos e, sobretudo, na educação continuada, quando os alunos vão
perceber que deveriam ter melhorado suas capacidades cognitivas.
Isto apresenta
um reflexo negativo no desenvolvimento socioeconômico e no desempenho
competitivo das empresas e, por consequência, dos países. No nível oposto ao do
Brasil a referência está na Finlândia em termos de educação e metodologia
educacional.
Existem casos de
alunos deixarem de concluir um curso ou abandonarem um curso superior e até de
pós-graduação, no último semestre. Esses
casos costumam acontecer quando precisam apresentar um trabalho final, artigo, monografia
ou relatório como resultado de um estágio-pesquisa em uma empresa, após frequentar
a faculdade durante quatro ou cinco anos. (Muitos alunos para não perderem totalmente
o tempo gasto preferem pagar para outros elaborarem suas monografias). Ocorre
assim simplesmente porque não sabem ler, interpretar, escrever, redigir seus
pensamentos, suas ideias, transformar em palavras as imagens e as metáforas
percebidas, apreendidas e discutidas durante o curso. Isso tem levado muitos
(alunos e até pedagogos) a perderem um precioso tempo discutindo o paradoxo
teoria x prática, o que não passa de mais um mecanismo de defesa (ou desculpa)
para ocultar as várias incompetências e deficiências e justificar o uso de
metodologias obsoletas aplicadas no processo educacional. Sem teoria a prática
educacional é um mero fazer sem consistência, sem direção, é apenas repetição
de padrões sem uma condição crítica até mesmo para a improvisação creadora.
Ou seja, muitos
alunos deixam de completar todo o caminho deste sistema porque não se encontram
preparados para apresentar a Retroalimentação daquilo que eles aprenderam (se
realmente aprenderam dentro de uma metodologia de decoração) e fez durante oito
ou dez semestres (por suposto). Tal situação mostra que o indivíduo-aluno não
chegou a alcançar o nível de indivíduo-estudante.
Esta referência
L.I.D.E.R. o aluno perdeu desde o pré-primário e sem ela passa a viver como
adulto incompleto para exercer as suas atividades e ações no mundo profissional
competitivo.
Este percurso
discursivo me leva a associar estas ideias aos achados que obtive na pesquisa
de mestrado, com a qual iniciei esta introdução. A pesquisa para o Mestrado
mostrou-me que a deficiência do próprio distrito industrial dos Imborés em
Vitória da Conquista, Bahia, se devia ao fato, entre tantos outros, de o perfil
da elite industrializante existente nessa região, na época do estudo, ser do
tipo reativo-dinástico-patrimonialista. Este perfil começa a ser considerado no
elemento E (Empreendedores) do Ciclo GCEQ, reflete no elemento G (Governo) quando se trata da posse do
poder local, e mostra como o empreendedor local/regional ainda não valoriza as
possibilidades oriundas de outro elemento deste Ciclo, como o C representado pelo CC&T (Conhecimento, Ciência,
Tecnologia).
Os outros
dois elementos do Ciclo: o G (Governo)
e o Q (Mercado), mesmo que
apresentassem, à época, uma atuação de relevo, não seriam capazes sozinhos de
promover o desenvolvimento ou recuperação do distrito que foi alvo de estudo,
sem que ocorresse alguma intervenção externa (a qual não era bem vista ou
recebida pelos líderes políticos da região). Ou seja, mesmo que existam vontade
política (G) e mercado consumidor
consciente, de qualidade (Q) e
disposto a comprar o que se produz, e preparado para expressar o seu desejo de
comprar, ainda assim não haverá desenvolvimento local. A ausência observada
desse desenvolvimento é o resultado de uma elite incapaz de empreender e de
investir seu patrimônio (E).
Outro vetor que
identifiquei durante a pesquisa e que tem um peso interessante quando se trata
do processo de industrialização, foi a falta de um elemento motriz; a ausência
na região de uma indústria ou empresa motriz para usar a proposição de Perroux
(1967).
Percebe-se nesse
processo a existência de uma elite que teme a incerteza e não possui conhecimento aplicado (C) suficiente para
ser aceito e transformado em produtos e serviços e não tem competência para
assumir riscos.
Outro fato de
relevo com tendência frequente de ocorrer no ambiente feudo-comercial é a resistência à entrada de
empreendedores estrangeiros (aqui considerados de outros estados, outras cidades,
mesmo vivendo na região e até vindo de outros países).
Os estrangeiros,
na realidade, são os melhores alavancadores do desenvolvimento local sustentado
porque tendem a assumir os riscos da incerteza com cautela, prudência e
segurança, mas sem fugir dessa incerteza, em lugar dos possíveis empreendedores
locais. Em Vitória da Conquista o começo de seu desenvolvimento foi atribuído a
estrangeiros migrantes de outras cidades do estado, como o caso dos
miguelenses, pessoas e famílias que vieram de São Miguel para trabalhar na
construção da rodovia Rio-Bahia e resolveram se estabelecer na cidade; e até migrantes do nordeste que seguiam para
São Paulo e resolviam se fixar ali.
Não adianta termos, simplesmente, um Governo bem intencionado em relação a
programas de desenvolvimento social, industrial e econômico; nem um mercado
consumidor de Qualidade, para se recuperar
um distrito industrial ou para se implantar um projeto de Cluster ou APL (Arranjo Produtivo Local). Em outras palavras, não é
possível trabalhar com o ciclo GCEQ quebrado, sem Conhecimento (C&T) e sem Empreendedores
e Investidores conscientes e interessados em assumir riscos. Este quadro
deplorável de baixa industrialização se verifica em todo o país.
Com base na
pesquisa de G. Hofstede (1983), falta entre as pessoas, nas regiões paradoxais,
aquelas que não fujam das incertezas, bem como seria necessária pequena
distância do poder (variáveis que o pesquisador Hofstede detectou e utilizou em
sua pesquisa sobre cultura e organização) entre as pessoas e os líderes locais.
Desta pesquisa
duas outras variáveis requerem muita atenção: Individualismo x Coletivismo e
Masculinidade X Feminidade. A Distância do Poder entre as pessoas requer
atenção, sobretudo no sistema político em vigor, porque são elas que escolhem
aqueles que vão elaborar e gerenciar as leis
e exercer a gestão do estado.
Precisamos,
portanto, ter bem definido e atuar com vigor em todos os componentes do ciclo GCEQ
para se alcançar resultados na implantação de um Sistema L.I.D.E.R. nas
organizações (públicas e privadas) de forma bem articulada. Sobretudo porque este
sistema representa uma base essencial, vale dizer, um alicerce, sem o qual
todos os esforços poderão não ser aproveitados. Isto tem muito a ver com a
gestão das cidades e do conhecimento, além da administração de negócios.
Além dos cursos
regulares de administração, os quais devem mudar o currículo atual para
introduzir um enfoque empreendedorial e cooperativo, torna-se necessário a
criação de cursos de Administração de Cidades, senão uma disciplina que aborde
este tema, como extensão curricular. Com isto, podemos desenvolver gerentes de
cidade e de comunidades e, assim, dar uma ênfase positiva e proativa às
políticas públicas locais. Em lugar de subprefeituras, os governos municipais
deveriam criar gerências regionais ocupadas por pessoas com experiências em
gestão e administração de empresas públicas e privadas.
Precisamos, com
urgência, eliminar ou reduzir das organizações públicas e privadas o senso
comum vulgar. Senso comum traduzido
na mediocridade política e burocrática.
Precisamos, também, tornar os órgãos e as instituições mais transparentes e
mais inclusivas, menos dispendiosas e menos medíocres.
Parece um
paradoxo negativo: as instituições e os poderes públicos não são tão públicos,
transparentes e inclusivos como deveriam ser. Na realidade são os mais
ferrenhos propositores da exclusão, quando se mostram, em alguns governos,
opositores da exclusão, ainda que cantem e decantem a necessidade de se
promover a inclusão humana em todas as suas dimensões. Aqui o que se diz
público é fechado, de difícil acesso e segue um ritual (burocrático e
hierárquico e heteronômico) de sociedade secreta na qual só os iniciados e os
escolhidos têm acesso. Aqui se confirma a importância que os poderosos dão à
heteronomia. Ninguém é mais excluído dos serviços e das instituições públicas
do que o chamado “povo” a quem cabe, por ironia, escolher os mandatários e os
legisladores que vão sustentar a sua exclusão (ironia do destino ou da dita
democracia!). Eis uma versão mais inteligível deste paradoxo. E ainda pagam
altos impostos para manter essa máquina burocrática em funcionamento.
Por outro lado,
não estou aqui descartando a ideia derivada do sonho de um negócio ser
valorizado se não tiver como suporte a capacitação proposta pelo Sistema
L.I.D.E.R., nem tampouco que dominar apenas a Arte de Ler seria suficiente para
alavancar os negócios de uma empresa.
Saber e aprender
a ler e a interpretar não dependem de ter um diploma. Os títulos nem sempre
proporcionam capacidade para a leitura e a interpretação do ambiente e do
mundo.
Deve-se ficar
bem claro que ter um sonho de negócio, ser visionário, empreendedor, não exige de
a pessoa ter curso superior, ou ser bem preparada dentro de uma proposta de
Sistema como esta aqui apresentada. Todavia, este Sistema pode contribuir para
despertar as ideias, melhorar e promover continuidade da melhoria da qualidade
e do desempenho no sentido de consolidar a identificação de oportunidades de
negócio. Além de contribuir para desenvolver a capacidade criativa dos colaboradores.
A ideia de
negócio, o sonho, a visão empreendedorial antecedem a esse processo de
aprendizagem. Na realidade, não dependem diretamente desse
processo, pois ocorrerão mesmo se a pessoa não tiver concluído um curso
elementar; isto faz parte da consciência e da vivência humanas e não é ensinado
em nenhuma escola e nem está contido em nenhum manual. Trata-se da
conscientização promovida pela aprendizagem imitativa (e experiência, a
analogia) própria do ser humano.
O empreendedor
sem base científica pode ter sucesso tanto quanto quem desenvolve o seu sonho
dentro de uma universidade e/ou participa de um Spin-Off ou de Empresas
Juniores nas faculdades.
As chances no
tempo podem ser diferentes para ambos. O motivo se deve ao fato de o segundo
tipo de empreendedor estar mais ativo e próximo das oportunidades de negócios
bem como das ferramentas para concretizar mais rapidamente o seu empreendimento,
sobretudo nesta era da Infoeconomia. Já o primeiro pelo fato de estar distante
dos recursos pode demorar mais para perceber as oportunidades para atenderem as
suas ideias, os seus sonhos. As formas de empreender também vão diferir porque
o perfil empreendedorial de ambos também é distinto. No primeiro caso tem-se
verificado com maior frequência o empreendedor
por imitação ou necessidade e no segundo o empreendedor por creação ou oportunidade. Já expliquei em parágrafo
anterior a diferença entre criação e creação.
Porém, isto não
tira o mérito do sucesso de um empreendedor por imitação, senão dentro da infossociedade (CASTELLS, 1997), pelo
menos dentro de seu estreito mundo low-tech,
em sua comunidade imediata remota, a qual nas regiões paradoxais ainda é muito
forte em baixa tecnologia, mesmo na periferia da Infoeconomia.
Em muitos casos
os empreendedores têm tido sucesso mesmo sem ter o trabalho de crear ou inovar
algum produto ou serviço ou de identificar, de forma creativa, uma oportunidade
de negócio. O que pode diferenciar uma empresa de imitação de outra de creação
é a vida útil. A primeira pode apresentar uma tendência de morte em um tempo
menor (do ciclo de vida) em relação à segunda.
Também vale
salientar que um empreendimento nascido por imitação pode, no decorrer dos
anos, se não fechar em pouco tempo, transformar-se em um empreendimento creativo
e inovador. Isto pode acontecer desde que seu dono comece a se conscientizar do
valor da filosofia empreendedorial e, mais ainda, seja capaz de atrair
colaboradores com esse tipo de conscientização, e formar uma equipe de
Intrapreendedores inovadores. (SILVA, 2014)
Implantar uma
empresa por imitação sem competência conceitual, como se pode inferir das Artes
de Ler e de Interpretar, é o mesmo que encher a cabeça com textos e ideias
decorados, escritos por outros, e não ter capacidade para interpretá-los, ou
mesmo de usá-los adequadamente. Assim sendo, a importância de se desenvolver
projetos de L.I.D.E.R., seja nas instâncias públicas, seja nas privadas, de
educação e de negócio, e dentro de programas de desenvolvimento local, é sempre
crescente.
Este livro
procura alertar aos líderes de negócio, líderes de política, líderes de
educação e outros, sobre a necessidade de reverem seus projetos, seus
conceitos, suas hipóteses e suas metodologias. O livro focaliza o
desenvolvimento humano como base para a mudança e a prosperidade de uma
organização, de uma comunidade, de um estado.
Esse
posicionamento é importante. Assim, academia, gestão pública, instituições e
organizações das comunidades produtivas, empreendedores e investidores,
precisam caminhar na direção de obter esta capacidade, de realizar a grande
tarefa de construir, reconstruir e rejuvenescer os distritos industriais. Ou
mesmo criá-los para se iniciar a tão necessária industrialização que irá
promover com mais facilidade uma redução da pobreza em nossas regiões. Como
conseguir realizar esta superação e quais os caminhos possíveis já existentes
para se alcançar esse desenvolvimento?
Só um processo
legítimo de industrialização – legítimo no sentido de envolver o Homem somado à
Natureza e não o Homem destruindo-a –, que não esteja investido de caráter
ideológico fechado, dogmático e centralizador, poderá promover o
desenvolvimento local sustentado. Por sua vez, o serviço e a agricultura de commodities só serão fortes se
tivermos indústrias bem assentadas e consolidadas nas regiões paradoxais, porque
o comércio, o serviço e as commodities não são base para redução da pobreza.
É preciso
salientar que o foco (futuro) do desenvolvimento econômico e social está
orientado para a Economia Orgânica em substituição à Inorgânica, ou seja, está
direcionado para o decrescimento dos modelos inorgânicos de desenvolvimento e o
nascimento e respectivo crescimento de modelos orgânicos. Vale salientar,
ainda, que não existe desenvolvimento sustentável sem uma filosofia
cooperativista e mutualista porque os modelos inorgânicos não são sustentáveis.
Portanto, já não
existe mais espaço para a industrialização do tipo consumidor de energias
fósseis e não-renováveis (industrialização de chaminés), o que vai implicar em
mudança de posicionamento da economia atual, inorgânica e molar, para uma
economia proativa, molecular e orgânica, sem chaminés, sem consumo desordenado
desses recursos. Em outras palavras, os países devem com urgência caminhar da
economia molar para a molecular, a Ecoeconomia, a Bioeconomia e a Nanoeconomia.
Neste sentido o
Brasil, mais do que qualquer outro país, tem a obrigação de ser um modelo na
implantação de indústrias sem chaminé, de redução no consumo da energia
não-renovável, da promoção de uma economia molecular e orgânica em lugar da
economia molar e inorgânica que foi (e ainda é) a marca do crescimento
econômico e financeiro dos países ditos desenvolvidos e capitalistas.
E mais, os
programas de redução da pobreza só terão sucesso se tivermos nessas regiões
paradoxais projetos semelhantes ao Sistema L.I.D.E.R. e programas de
desenvolvimento que estimulem a industrialização orgânica, de preferência na
forma cooperativista.
Não há como reduzir
pobreza apenas pela via do comércio e do serviço, nem da agropecuária
comoditizada. Esses setores são concentradores de riqueza, muitas vezes de
forma bastante perniciosa e desumana.
A pobreza também
não será reduzida com programas como
o fornecimento de bolsas financeiras paliativas do governo, quando a sociedade
ainda não é economicamente desenvolvida e educada para receber estes benefícios.
Também é impossível promover desenvolvimento com distribuição de terras para
pessoas sem aptidões agrícolas. Estes, sobretudo, são setores que não exigem um
acúmulo de conhecimento ou alta tecnologia para as atividades a serem
realizadas. Daí serem setores de baixa remuneração do trabalho, às vezes
intensivos em mão de obra, mas com baixa concentração de conhecimentos (de
know-how, de tecnologia, de informação, mesmo que se tente, através de
organizações como a EMBRAPA, realizar pesquisas e aplicar conhecimentos na
agropecuária). Mas, nada disso será suficiente se o ambiente político suprimir
a liberdade de pensar e de fazer das pessoas.
Quanto à literatura
disponível para ampliar as ideias, embasar os projetos convido o leitor a
visitar o site http://shengadm.blogspot.com. Existem também outros Blogs, nos quais
apresento artigos e muitas indicações bibliográficas, além das referências que
embasam este livro e podem ser obtidas através da Internet. Aqui lanço um novo
desafio denominado Sistema L.I.D.E.R., formado por cinco artes ou domínios que
devem ser aprendidos e praticados dentro das organizações e na vida pessoal.
Este livro está
dividido em 18 capítulos (Partes), um Prólogo e um Epílogo, incluindo esta
introdução, com o último capítulo servindo como uma conclusão provisória.
Cada capítulo
procura discutir os domínios da composição do Sistema e sua base metodológica,
bem como elementos laterais que os complementam. Cada capítulo representa um
caminho a ser seguido no sentido de se conseguir bons resultados com a
aplicação deste Sistema. Já no Epílogo procuro discutir o Ciclo APOR e a
Administração Sem Gestão.
Acrescentei ao
final um Glossário com termos, expressões e acrônimos selecionados do texto
para facilitar e tornar mais explícito para o leitor o seu conteúdo e alguns
neologismos que criei.
Ao discutir as cinco artes ou domínios, procurei
fazê-lo de modo que o leitor possa sentir, além da significação de cada uma
delas, a sua importância para o desenvolvimento e os resultados de uma
organização, seja com ou sem fins lucrativos. A sua leitura representa uma
viagem por labirintos do saber incluindo uma forte orientação para o
empreendedorismo e o cooperativismo.
O propósito
maior está no sentido de focalizar uma sociedade organizada por coletivos em
comunidades cooperativas. Pode-se dizer que a motivação de realizar as
pesquisas que resultaram neste livro está na importância da Filosofia
Cooperativista. Usamos esta em contraposição às filosofias vigentes no ambiente
acadêmico, econômico e político centrado nos sistemas capitalista e socialista
que proclamam o desenvolvimento econômico inorgânico.
Este livro
procura atrelar elementos teóricos a uma visão prática e experiencial, embora
um projeto como este não deva ser manipulado com números ou com valores
quantitativos cartesianos porque seu escopo está centrado na subjetividade, na cognição,
na intuição, na improvisação positiva e na qualidade das ações e
espiritualidade dos indivíduos.
O Sistema
L.I.D.E.R. está orientado para os Seres Humanos dentro das organizações, e
essas ações não são efetivamente mensuráveis pelos métodos estatísticos e
matemáticos vigentes. Trata-se de um sistema não cartesiano, não-mecanicista,
não-ideológico, nem materialista; trabalha com e para o desenvolvimento humano
através de um caminho do Pensar ao Fazer. Podemos dizer que a sua metodologia
segue o caminho da intuição heurística e está interessado no pensamento creador
e não o caminho cartesiano, analítico e fragmentador de ideias e meios. Todas
estas artes ou domínios apresentam formas específicas de dificuldades para a
aprendizagem, porém considero a Arte de Ler a que requer atenção especial em
virtude da importância da leitura ativa (e não da leitura passiva) para tornar
as pessoas mais competitivas e cooperativas. O que é a Interpretação de uma
leitura senão o pensar com o seu próprio pensamento e não com o pensamento do
autor?
Por que
precisamos, como Administradores, Líderes e Coordenadores Cooperativos, ler e
interpretar? Precisamos, sobretudo, para poder utilizar com precisão e
entusiasmo a conversação estratégica no ambiente organizacional, a fim alcançar
a efetividade necessária para a visão e a ideia de negócio que se pretende
criar (HEIJDEN, 2004).
Ler apenas por ler (passivamente) sem interpretar o que foi efetivamente
lido é tão medíocre como pensar com os pensamentos de outros como se fossem
seus, sem a menor reflexão. Por isso o Ler que discuto em L.I.D.E.R. não se
refere à quantidade passiva, mas à qualidade ativa da leitura. Trata-se, enfim,
da leitura crítica e creativa. Neste livro apresento ideias, princípios e
experiências que podem contribuir para profissionais, professores, coachs, empreendedores e empresários que
têm o propósito de promover mudanças e transformações, e não meras reforms, em
seus próprios métodos de trabalho e desejam melhorar suas empresas e suas
comunidades.
Este é um livro de todos para todos independente de idade, sexo,
fisiologia, nível de conhecimento, posições políticas, religiosas, ideológicas,
desde que todos estejam certos de que são céticos positivos e não dogmáticos
para poderem duvidar no sentido de se tornarem creativos. Trata-se, portanto,
de um livro para aqueles que têm visão e sentido de águia, que enxergam longe e
sabem escutar os reclamos da Natureza e vivê-los plenamente de forma
sustentável, mutualista e cooperativa. m sentido metodológico, o Sistema
L.I.D.E.R., objeto deste livro, resultou de estudos e pesquisas que começaram
no mestrado e seguiram a ser feitas com a utilização de método indutivo,
empírico e através de um sentido qualitativo para a exposição dos resultados.
O leitor encontrará neste livro várias expressões novas, além de siglas e
acrônimos que não são comuns no vernáculo atual. Esta forma ousada de escrever
faz parte da imaginação. Ela mostra que os lugares comuns na linguagem podem
dar lugar a léxicos novos e que trazem um pouco de poesia, bem como metáforas,
para uma nova forma de ler, de escrever e até de falar sem perder o sentido
semântico que enriquece o texto.
[1] Ver, entre outros: ALMEIDA, Rômulo. Rômulo: Voltado para o Futuro.
Fortaleza: BNB, 1986.
[2] Spin-Off
representa o desenvolvimento de negócios a partir de ações dentro de um centro
acadêmico ou universidade. As universidades empreendedoras são, por força das
atividades teóricas-práticas, uma reunião de Spin-Offs, sobretudo nos cursos das áreas de exatas como física,
química, engenharias, sistemas de informação, etc.
[3]
Ver livro digital Além de Ser Empresário
Seja Empreendedor. ViaLitterarum, 2014.
[4]
Ao longo deste livro usarei a verbo crear e suas derivações para me referir
à capacidade humana de desenvolver ideias e inovações e de usar o hemisfério
direito do cérebro. Usarei o verbo criar
quando me referir aos produtos obtidos com a capacidade de crear, ou seja,
pelo uso do hemisfério esquerdo do cérebro. O primeiro verbo procura mostrar a
evolução do conhecimento do nível molar (mecânico) para o molecular
(heurístico) o segundo a aplicação desse conhecimento e seu uso em benefício do
Homem e do Planeta. É válida também a leitura de Rodhen (1984). Segundo Rodhen “Crear é a manifestação da Essência em
forma de existência – criar é a
transição de uma existência para outra”. Ver também Fisher (1989).
[5]“O velho Torquato
dá relevo ao que conta a força de imagens engraçadas e apólogos. Ontem explicava
o mal de nossa raça: preguiça de pensar.”...
Monteiro LOBATO: “Vidinha Ociosa”,
Apólogo, 1906, p.37. In, Cidades Mortas.
São Paulo: Globo, 2007.
Assinar:
Postagens (Atom)