A corrupção é um tema que está com frequência na ordem do dia
de jornais, revistas, noticiários, na mídia em geral e não posso deixar de
falar um pouco desta notável figura metafórica que muitos ouvem, todos ou quase
todos parecem conhecer a figura e, talvez, poucos saibam efetivamente como
lidar com ela ou mesmo interpreta-la devidamente quando se encontra diante
dela.
Pelo meu glossário acadêmico a palavra Corrupção derivada do verbo Corromper parece-me dizer que se trata
de provocar o rompimento, a fratura, a ruptura,
a deformação ou o desalinhamento de um processo, um sistema ou um organismo e
de um programa ou texto científico. Não vou consultar o Aurélio e deixo que
outros o façam porque gostaria de deixar claro nesta narrativa o que penso
sobre esta palavra e sobre a sua ocorrência real como em vários momentos
experimentei, vivi e sofri danos talvez hoje irreparáveis causados por algumas
dessas situações. Talvez por falta, na época, de uma melhor compreensão do que
se tratava.
É claro que não pretendo escrever um Tratado sobre a
Corrupção, nem relatar as amargas experiências vividas, mesmo porque não me
sinto à vontade agora para uma obra dessa natureza. Mas não me custa realizar
as leituras de alguns fatos e evidências e coloca-las no papel, talvez como uma
forma de descarregar o meu consciente dolorido pelo que vi, vivi, passei e
ainda vejo na raiz de uma nação como o Brasil.
Se considerar as palavras expressas acima como um conceito,
seria interessante dimensionar o seu sentido para facilitar o entendimento.
Assim, posso dizer hoje que existem quatro ou cinco tipos ou formas
dimensionais de corrupção as quais nomeio a seguir.
A primeira forma denomino de NanoCorrupção: trata-se de um
modelo de corrupção invisível e imperceptível a olho nu e que age de forma
cruel como o vírus ebola ou outro qualquer. Ela corrompe, contamina, desgasta
de forma lenta, mas contínua o organismo humano, social, ambiental. Elas podem,
como as demais, ser desenhadas segundo regras sociológicas psicológicas,
econômicas, antropológicas para atender aos diversos estilos de os agentes
agirem no ato de corromper.
Existe um sem número de exemplos cuja listagem encheria
várias páginas com e sem fotos e outros tipos de ilustração. Contudo registro
uns poucos exemplos e começo com a chamada cola didática, ou seja, aquela que o
aluno faz olhando por sobre o ombro do colega em uma prova para ver se consegue
copiar a resposta em um quesito. Aqui também considero uma ação nanocorrupta o
professor dispensar um aluno de entregar um trabalho escolar porque ele (o
aluno) tem se comportado muito bem e demonstra bom nível de inteligência em sua
disciplina. Na minha forma de pensar se tiver que dispensar um aluno de
entregar um trabalho dispensarei a todos e refaço a metodologia da atividade
acadêmica para contemplar esta atitude. Outro exemplo ocorre quando tentamos
furar uma fila, muitas vezes fingindo que estamos doentes, e dizemos não ser
possível esperar a nossa hora de ser atendido. Um tipo interessante é o da
falta de troco em centavos muito comum nos caixas de supermercado, mercearias,
farmácias, padarias, etc.
Um fato que presenciei muito a propósito deste tipo ocorreu
numa fila de um renomado Hipermercado em Salvador. Estávamos em pleno plano
Collor, quando todo mundo foi saqueado pelos donos do poder na época quando um
cliente a minha frente foi atendido. Depois que a garota do caixa contabilizou
os produtos e totalizou o valor a pagar o cliente entregou-lhe várias cédulas
em pagamento. A caixa deveria devolver-lhe um troco que incluía uma fração de 10
centavos. Como já era de hábito – e diga-se que um dos centros promotores da
NanoCorrupção são os velhos hábitos negativos que se enraízam nas pessoas – não
havia moedas de 10 centavos no caixa. Qual a solução da moça: “O Senhor aceita
uns caramelos para completar o troco?”. Ao que o cliente respondeu: “Não
aceito. Prefiro os 10 centavos”. Ela insistiu: “Não tenho moedas de 10 centavos
no caixa, por isso estou sugerindo que o senhor receba em bombons o seu troco”.
Enquanto a discussão entre cliente e caixa se desenrolava a fila crescia e o
pessoal já demonstrava irritação. Contra quem era a irritação? Pensem. Contra o
cliente que não aceitava o troco em forma de caramelos ou bombons.
Incrível. Eu estava bem próximo do cliente exigente quando um
cidadão saiu de sua posição bem atrás e se ofereceu para dar ao reclamante uma
moeda de 10 centavos para que ele deixasse a fila andar. Paro aqui e deixo a
apreciação do caso para o leitor. Este é um exemplo bem prático de corrupção e
corruptores dentro desta modalidade nano.
A segunda forma é a MicroCorrupção. Esta já é bem perceptível
e ocorrem também diariamente nas padarias, mercadinhos, açougues, etc. O
exemplo mais comum é o do quilo de 950 gramas. O dono do açougue adultera o registro
de peso da balança de tal forma que quando ele coloca o corte de carne para um
quilo em verdade está pesando 950 gramas. Veja que em um açougue mediano desossam
várias arroubas de boi por dia. Calcule no final do dia quantos quilos de carne
deixaram de ser entregues aos clientes devido a este artifício. Considere
apenas uma arroba equivalente a quinze quilos. Quanto os clientes pagaram sem
levar em carne desse açougue? O mesmo ocorre em uma bomba de gasolina, na
medição do consumo de água e de luz, nas corridas de taxi e tantos outros fatos
que já sabemos muito bem e somos até coniventes o que nos coloca na posição de
corruptores ou coparticipantes do sistema de microcorrupção.
A terceira forma é a MesoCorrupção. Esta ocorre nos processos
de negociação entre vendedor e comprador de pequenas quantidades de materiais
dentro de empresas comerciais e industriais. Geralmente as negociações de
compra e venda de produtos e materiais para os suprimentos das empresas se fazem
com a famosa “quebra” ou o “desconto” ou, ainda, o “chorinho” que o vendedor
oferece para que o comprador fique com a mercadoria. Sei de casos em que
compradores juniores acumularam benefícios superiores aos seus ganhos reais
apenas recebendo essas propinas dos fornecedores. O fornecedor, por sua vez,
repõe essas propinas através do “overprice” que coloca nas mercadorias. Muitas
vezes ambos, vendedor e comprador se associam para as duas partes ganharem com
o “overprice”. Coloquem a imaginação para funcionar e identifiquem outros
exemplos de mesocorrupção.
A quarta forma é a MacroCorrupção. Bem. Neste caso o Brasil é
campeão e as manchetes estão cheias de relatos. Não precisa ir muito longe buscar
na história para desvendarmos os grandes casos de corrupções que assolaram os
nossos governos. Vejamos apenas os recentes. São corrupções que acontecem nos
órgãos públicos, nas empresas públicas e estatais, nos governos federal,
estaduais e municipais e vão desde a compra de materiais para merenda escolar
até os chamados mensalões e petrolões. Permito-me não narrar estes tipos porque
são os mais amplamente visíveis e o leitor já está careca de saber ou ouvir
falar deles.
É possível que exista uma forma que se chama de MegaCorrupção,
a qual envolve as transações entre países ou entre empresas globalizadas sob a
inspiração dos governantes ou seus emissários para fazer negociações. Mas vamos
parar por aqui. Já exemplificamos o suficiente para as quatro formas que
enumeramos. Um fato deve ser salientado. Qualquer um de nós está sujeito a ser
levado na conversa e, às vezes de forma ingênua ou por simples desconhecimento
ou inocência, aceitamos esses brindes, presentes, bônus, descontos, etc. que
são oferecidos no mercado porque não olhamos tais ações como sendo maldades,
mas acreditamos que façam parte de uma cultura mercadológica própria do
capitalismo.
Encerro esta narrativa copiando uma mensagem muito pertinente
que recebi da Organização Brahma Kumaris:
Mudança
"Agora é hora de
mudança, tudo está chegando a um clímax. O fim da corrupção está perto. Temos
que criar um mundo de verdade e amor. Cada um tem seu papel. Se comparo ou
critico, perco tempo porque não posso mudar o papel dos outros. Então tenha pensamentos
positivos para si. Contemple o que é bom. Vá para um estado de meditação.
Mantenha as qualidades originais da alma (pureza, paz, amor, verdade,
felicidade) na mente. Pense nas qualidades do Pai e não se preocupe”.
Brahma Kumaris
Pão, Paz e Liberdade