“Aprender é remar contra a corrente; é só parar, e
anda-se para trás” (Adágio Chinês)
Tenho falado e discutido sobre a
importância e o significado das Habilidades Essenciais (HA) para o
desenvolvimento de Sistemas Humanos Integrais (SHI) e mostrado como é
importante dominar e sempre atualizar essas habilidades para que tenhamos capacidade de tomar decisões. Enquanto
discutia a importância e o valor das seis habilidades principais para um
Administrador de sucesso, percebi que elas se tornavam eficientes e práticas devido
ao suporte ou apoio das Capacidades Essenciais (CA) que estão nas suas bases e
no entorno, as quais consolidam as Competências Essenciais (CE). Repito apenas
para lembrar quais são as seis habilidades essenciais: a) Humanas e Sociais; b)
Conceituais e Interpretativas; c) Técnicas e Experienciais [que formam as Habilidades Pragmáticas, Molares]; d)
Heurísticas e Intuitivas; e) Praxiológicas e Decisionais; f) Emocionais e
Espirituais [que formas as Habilidades
Inovadoras, Moleculares]. Tem-se, assim, que as habilidades devem resultar
em capacidades, sem o que as estratégias criadas durante os planejamentos podem
não alcançar essas competências. Tem-se, então, que o foco central para onde
convergem as Habilidades e as Aptidões é a Capacidade que o Administrador irá
dominar para aplicar no Processo Decisório. E o que significam as Capacidades
Essenciais?
Primeiro vamos entender um pouco
o que significa Capacidade e como a vemos dentro de um ambiente organizacional,
com Administração Integral, em apoio à tomada de decisões. Existem vários
significados no dicionário para esta palavra e alguns deles estão diretamente
relacionados com a forma como conceituo Habilidade e Aptidão. Contudo, quando a
capacidade expressa habilidade e/ou aptidão a palavra, em sentido isolado, não
consegue dar maior força ou sentido ao que trato como essencial e
não-essencial, o que requer uma ampliação aplicativa para o seu significado.
Assim, para conseguirmos perceber melhor como a capacidade contribui para
aumentar as ações das Habilidades Essenciais, vamos ajusta-la às preposições
que lhe seguem como forma de expandi-la. Como assim?
Vamos, então, à nossa segunda
proposição que trata da palavra capacidade preposicionada, ou seja, acrescida
de uma preposição, para dar o sentido que necessitamos quando formos nos
referir a habilidades e aptidões. Deste modo poderemos dizer que existem pelo
menos dois caminhos significativos preposicionados que nos orientam para
compreender o papel da capacidade no desenvolvimento dos atributos que ajudam
no processo de tomada de decisão. Escolhi duas preposições que considero fortes
quando associadas a um substantivo: “de” e “para”. Em seguida identifiquei na
minha apreciação estes dois caminhos: a) Capacidade de... ; e b) Capacidade para...,
os quais passo a discutir.
Apreciem como o uso das
preposições “de” e “para” dão sentidos (fortes) distintos à aplicação prática
das capacidades; isto possibilita identificar quando uma capacidade é essencial,
e complementa o domínio cognitivo na direção da prática no ambiente
organizacional, em especial quando os colaboradores e líderes/diretivos são
preparados com o Sistema L.I.D.E.R. (Ler, Interpretar, Desenvolver, Estudar,
Realimentar) e dominam o Ciclo APOR (Atenção, Percepção, Observação, Reflexão).
Estas duas ferramentas (L.I.D.E.R. e APOR) contribuem para o aperfeiçoamento
das Habilidades Essenciais e, por reflexão, das Capacidades Essenciais dos Sistemas
Humanos Integrais que atuam dentro de uma empresa ou instituição; estas são
também importantes para a vida pessoal, sobretudo quando a pessoa possui um
foco de atualização segundo os princípios de Individualismo Cooperativo.
O caminho promovido pela condição
Capacidade De contribui para o
Sentir e o Pensar antes de o Praticar e o Fazer, tanto para as Habilidades como
para as Aptidões, embora seja mais requerido para as primeiras, visto que sem o
Pensar as Habilidades Essenciais podem não ser produtivas e nem contribuir para
a eficácia das Aptidões nas organizações. Já a Capacidade Para contribui para o Fazer depois de o Pensar e tende a
tornar as Aptidões mais consistentes, práticas e eficientes. Quando adicionamos
um verbo a estas expressões a importância para as Habilidades Essenciais se
destacam e isto nos conduz a um conjunto de Capacidades Essenciais para
realizar as Ações e Atividades de Administração de uma unidade produtiva, de
uma organização, de uma sociedade, de um país.
Quando dizemos Ser Capaz De ou Ser Capaz Para estamos falando de duas ações distintas mas
congruentes. Quando uma pessoa é capaz
de, ela está estimulando os domínios de suas habilidades, a fim de
proporcionar energia suficiente quando se está diante de um problema, ou se
está identificando o fenômeno que gerou o problema dentro de uma empresa ou
mesmo na vida real. Neste momento o Administrador dedica todo o seu APOR para
construir as ideias e elaborar as estratégias que resultem em soluções; essas
estratégias deverão ser direcionadas para a próxima condição operacional ou de
gestão, geralmente a cargo de gerentes, supervisores, coordenadores
cooperativos, colaboradores, os quais devem estar preparados em suas condições
relativas de ser capaz para por em
atividade as ações propostas no nível anterior (ser capaz de).
Assim, podemos salientar que a
condição Capacidade De, envolve os
valores que pertencem a um indivíduo, algo que lhe é próprio, subjetivo e
intrínseco a seu ego, sua inteligência, sua esfera cognitiva; em algumas
ocasiões tratamos esta condição como conhecimento tácito, intuição, emoção,
razão, espírito, cooperatividade, criatividade, inventividade e competitividade
e resumimos na Arte de Pensar. Esta Arte o indivíduo aprende ao longo de sua
vida. Vale lembrar aqui as palavras de Sócrates no momento em o efeito da
cicuta já chegava ao nível do seu tórax: “...Eu sei que nada sei” mostrando que
até no momento da morte podemos estar aprendendo a pensar ou ainda não
conseguimos nos completar. Ninguém nasce sabendo pensar e quando deixamos ou
retardamos o processo de aprendizagem do Pensar nos tornamos um ser que não
consegue caminhar no sentido de sua completude. Todo conhecimento que
acumulamos no hemisfério esquerdo do cérebro foi construído depois do
nascimento e ao longo do crescimento. Essa acumulação quando se associa à
maturidade torna a pessoa mais preparada para a vida em harmonia com os demais
seres da natureza. Quando ocorrem falhas de maturidade esse hiato entre o que
pensamos e o que fazemos pode se tornar uma arma perigosa para a pessoa e para
os demais seres da natureza. Chamo essas falhas de “Desvios Ontogenético”.
A falta de aprendizagem da Arte
de Pensar representa o desvio das Capacidades
Essenciais do Bem, e orientadas a um processo decisório eficiente; esse desvio
conduz ao sentido de Capacidades Não-Essenciais que ocupam e consomem muito
tempo tornando-o improdutivo e que, na maioria dos casos, resultam em
conflitos, violências, vícios e uso de mecanismos instintivos semelhantes aos
animais. Ou seja, quando fazemos usos de Capacidades Não-Essenciais (ou Capacidade do Mau) priorizamos as experiências instintivas que
estão acumuladas em nosso cérebro reptilíneo desde nossa origem e evolução
(filogênese) do nível animal para o do hominídeo. Ao darmos ênfase às Capacidades
Não-Essenciais estamos alimentando hábitos nocivos a nossa própria existência
no ambiente natural e ao próprio ambiente, com o que comprometemos nossa
evolução e continuamos inconclusos.
O que buscamos com o
Desenvolvimento de Sistemas Humanos (DSH) nos Projetos SHENG.COM é priorizar as
Capacidades Essenciais, por isso enfatizamos que uma das condições para tal
desenvolvimento (ontogênese) é a aprendizagem das cinco artes ou domínios que
compõem o Sistema L.I.D.E.R., o qual atua como um sistema motriz, para
começarmos a aumentar, gradativamente, essas capacidades.
Outro ponto que evidenciamos em
nosso estudo refere-se à distinção que fazemos entre Ação e Atividade.
Observamos que as Capacidades Essenciais estão mais relacionadas com a Ação que
com as Atividades, enquanto as Não-Essenciais tendem a se utilizar mais das
Atividades que das Ações. Um roubo, um crime, uma atitude corrupta, um vício,
são indicativos de baixo conteúdo de Capacidade Essencial no cérebro de um
indivíduo. Uma pergunta que costumo fazer, quando estou no processo de
conversação estratégica com os colaboradores e executivos de uma empresa, é: “Você é fumante?” Se o colaborador
responder que sim, então faço uma segunda pergunta que considero fundamental: “Você considera a atividade de fumar cigarros (ou outro produto) essencial
para a sua qualidade de vida?” A resposta geralmente é um tanto atrapalhada
porque a pessoa considera geralmente o vício de fumar algo bom, agradável,
prazeroso e divertido, e estas supostas atividades de caráter lúdico negativo e
improdutivo eles acham interessantes quando, pela evidência demonstrada
cientificamente, a atividade de fumar é prejudicial à saúde do Homem. Este é
apenas um exemplo e podemos perceber muitos outros em que as pessoas nem percebem
que estão agindo através de uma capacidade não-essencial que pode lhe ser
prejudicial e ao seu trabalho e, em muitos casos, colocar em risco a saúde e a
vida. O mesmo podemos dizer sobre decisões tomadas sem o devido APOR que podem
levar um processo produtivo a perdas materiais graves e, até, humanas. Alguns
desastres que foram registrados pela história recente mostram como tomar
decisões, sem levar em consideração as Capacidades Essenciais, resultaram em
prejuízos materiais a empresas e ceifaram vidas de colaboradores, população e
biodiversidade.
Casos como a explosão da fábrica
de gás isocianato de potássio, da Union Carbide, em Bopal, na Índia, do mega
petroleiro Valdez da Exxon que explodiu no mar do Alaska, de Chernobil, Apolo
11, até a queda de aviões e de prédios construídos com materiais sem qualidade
para reduzir custos, são clássicos. Contudo, os microacidentes que resultam do
déficit de APOR de chefes, coordenadores, supervisores e funcionários, quando
somados, podem resultar em grande prejuízo para empresas, instituições e para o
país. O Sistema L.I.D.E.R. pode contribuir para a Administração de Riscos que é
hoje uma área importante para os profissionais de Administração dentro das
empresas de qualquer tamanho, mesmo aquelas empresas intensivas em conhecimento
e tecnologia.
Vejamos agora em que resulta para
os sistemas humanos e para a empresa a Capacidade
Para. Enquanto o líder estrategista se ocupa em formular ou traçar
diretrizes estratégicas para ação utilizando-se de sua Capacidade De, o gerente (gestor) com base em sua Capacidade Para conduz as atividades dos
sistemas produtivos e procura aplicar as táticas necessárias para que as
estratégias sejam bem sucedidas. Ele, o gerente, Líder de Atividade, precisa
estar preparado com as Habilidades Essenciais necessárias para realizar ou
colocar em prática as Capacidades Essenciais que são requeridas em determinada
obra, produção, negociação, etc. através das estratégias definidas pela Capacidade De proporcionadas pelos
líderes de ação da empresa.
Um ponto comum a ambos, diretor/executivo
(líder de ação) e gerente/gestor, (líder de atividade), envolve a necessidade
de aceitar como importante para o desenvolvimento dos negócios a existência de
conflitos e problemas e, até, de alguns erros. Uma experiência vivida em uma
companhia japonesa chamou-me a atenção certa feita. Ao final de um turno de
trabalho de zero hora, quando às sete horas estávamos concluindo os relatórios das
atividades de produção do turno e, no espaço do diário de produção, destinado a
registrar ocorrências, problemas, defeitos em máquinas e em produtos, não havia
sido registrado nada. Quando entreguei ao supervisor japonês nosso relatório
ele sentou-se no escritório e começou a chorar. Quando perguntei se ele estava
chorando com saudades da família ele disse: “Não”, ao que perguntei novamente: “Qual ou quais os motivos de você estar chorando?”, e a resposta foi
inusitada para mim que estava sempre buscando o optimum nos processos produtivos da fábrica; ao que ele respondeu:
“No Japão, quando encerramos uma jornada
ou turno sem problemas ou ocorrências é um sinal de que nos turnos seguintes
vão aparecer muitos problemas e isto não é bom”. Ao que ele completou: “Encerramos o turno e vocês podem ir para
casa, mas eu fico na fábrica para cooperar com o próximo supervisor”. Esta
constatação mostra como a cultura oriental avalia as coisas essenciais e as
não-essenciais e se dedicam a otimizar, cada vez mais, as coisas essenciais, e
descartar ou minimizar e até buscar superações para eliminar ou fazer com que se
possa reduzir a zero, as não-essenciais.
Aqui entra mais um ponto interessante
para este tema das Capacidades Essenciais, que se refere à questão que vem
sendo discutida por muitas pessoas, sobre a polarização dicotômica como um fator
improdutivo dentro de um sistema complexo. Discutirei isto no próximo post com o tema A POLARIZAÇÃO DE IDEIAS,
ARGUMENTOS E AÇÕES COMO VANTAGEM COMPETITIVA. As ideias aqui expressas se
baseiam no livro que devo lançar em breve: L.I.D.E.R.
Ideias e Método que trata deste e de outros temas. Quando o livro entrar no
prelo, informo o valor e como fazer a pré-compra do exemplar e espero contar
com os estudantes, colegas e profissionais para leitura e discussão de nossas
ideias. Deverei disponibilizar sem custo um capítulo do livro neste Blog.
Administração Sem Gestão. Pão,
Paz e Liberdade.