Para exemplificar o dito tomo a ousadia de transcrever neste post um artigo escrito em 1988 pelo meu amigo Dr. Geraldo Caravantes publicado no Jornal do Comércio de Porto Alegre, e espero que ele não de admoeste por ter ido cavar nos baús do Conselho Regional de Administração este artigo. Exemplifico, também, para mostrar aos estudantes de Administração como é significativo para nossa profissão que hoje completa 50 anos, o Pensar antes do Fazer como tenho pregado aos ventos nas salas de aula. Vamos ao artigo:
"EU ERA FELIZ E NÃO SABIA"
Geraldo Ronchetti Caravantes (1988)
"Se há um povo com capacidade de tolerância vários pontos acima da média, não precisamos hesitar nem um segundo em responder: somos nós brasileiros. A inflação situa-se em torno de 1% ao dia, ultrapassando 4 dígitos (acima dos 1000%), quando pensamos no índice anual. Para se ter uma referência para comparação basta lembrar que no Japão ela situa-se em torno de 2% (dois por cento) ao ano e nos Estados Unidos 6% (seis por cento).
A gasolina, que, retirado o imposto compulsório de 30% deveria baixar em igual proporção, não só não baixou mas recebeu ainda um acréscimo de 15%. Os gêneros de primeira necessidade, o vestuário e tudo mais tem seus preços majorados de acordo com parâmetros incompreensíveis ao simples mortal e vão à estratosfera.
E apesar de tudo isso, ainda conservamos um sorriso nos lábios. É ou não é algo surpreendente?
Mas surpreendente mesmo é termos um Governo que não governa, dirigentes que não dirigem, homens públicos que se preocupam mais com o próprio bolso do que com o honorável público. Para dizer a verdade, há um momento em que eles se preocupam: no período pré-eleitoral quando estão à caça de votos.
Você lembra da época em que Delfim dirigia as finanças públicas do País e achávamos ruim quando a inflação anual beirava 30%? Tem muito brasileiro ficando com saudade daqueles bons tempos...
Quando vejo tantas situações sociais totalmente fora de controle e que são fundamentalmente de responsabilidade de nossos governantes, pergunto-me se o que presenciamos é realmente incompetência nata, endógena, ou trata-se do que poderíamos chamar de incompetência programada e deliberada?
Creio que o único caminho que nos resta - se conseguirmos resistir até lá - é democraticamente banirmos da vida pública os atuais gestores incapazes de gerir. Deveríamos, de imediato, começar tal exercício votando em candidatos que não representem a situação, escolhendo pessoas com experiência e competência. Já seria um começo".
Embora os números utilizados neste artigo sejam de 1988, eles passam a representar uma metáfora bastante clara e lúcida, senão uma provocação de cenário para o que esperaríamos no futuro daquele momento que são os dias de hoje. Leia-se nas entrelinhas que naquela época como hoje, um dos temas mais ventilados nos jornais e inclusive em ouros artigos do Dr. Geraldo Caravantes escritos para o Jornal do Comércio, era a corrupção que corria solta nos ambientes governamentais tal qual vemos hoje em escândalos que são bem mais amplos que os dos tempos passados.
O que me deixa intrigado hoje é que quase em nenhum momentos procuramos promover qualquer forma de mudança que fosse capaz de impactar a estrutura socioeconômica nacional e abrir espaço para um desenvolvimento firme. Há trinta anos a Coreia do Sul já estava ultrapassando o Brasil e até agora permanecemos no mesmo lugar como se nada fosse necessário mudar. Quem sabe daqui a 30 anos alguém, em algum lugar deste imenso país, irá dizer que realmente houve alguma significativa mudança e começamos a engatinhar para um verdadeiro desenvolvimento. Ainda estou acreditando que isto vai acontecer e não mais iremos dizer que "eramos felizes e não sabíamos".
Pão, Paz e Liberdade