Quem disse que choro não dá voto? Dá, sim. Quem pensa que não
dá está enganado. No Brasil o choro é capaz de resolver muitas coisas. E quando
o choro é de uma mulher é melhor porque ele pode abrir o coração de outros e
outras. Ele, o choro, é capaz de promover uma reconciliação entre duas pessoas
e, até, entre contendores em uma disputa (por exemplo, uma disputa eleitoral).
O choro pode abrir portas que antes não davam acesso a
fatores e coisas de interesse pessoal. Pode abrir passagem em uma multidão de
pessoas confusas. Com o choro podemos fazer coisas até inimagináveis porque
consegue comover e promover ou despertar o calor de emoções reprimidas. O choro
pode ser também a manifestação ou indicação de um delírio, indicar a perda de
algo precioso (como no caso do choro pela perda de um ente querido). O choro é o "jeitinho brasileiro" de "levar vantagem em tudo", de conseguir um desconto ou redução de juros em um compra. E a mulher é sempre mais chorona que o homem quando se trata de negociar a compra de um produto.
O choro também costuma representar a alegria por um prêmio,
um elogio, um presente ou um ganho extra em alguma disputa. E, engraçado, no
Brasil o choro é um ritmo musical alegre e às vezes melancólico e um
complemento a mais na dose de uma bebida (por exemplo, um cliente pode pedir ao
garçom para não esquecer o chorinho ao colocar a dose de whisky no copo). No
caso de música o chorinho brasileiro é um ritmo meloso, dengoso e gostoso de se
ouvir e, quando solado com um cavaquinho ou bandolim bem afinado e bem executado dá até para
cochilar ou servir de fundo melodioso para se fazer uma meditação, uma reflexão
e, até... recordar coisas boas e... chorar de saudade. E o choro vem sempre depois da sagrada frase bem brasileira: "Eu era feliz e não sabia!".
O certo é que o choro é uma necessidade porque expressa algo
verdadeiro ou sincero como a saudade do tempo em que alguém militava em uma
facção política, por exemplo, e era aplaudida, reverenciada pela sua origem
humilda, endeusada como a ninfa da sustentabilidade ecológica (mesmo que não
sustentasse nada interessante para as pessoas e a natureza) e tinha, por tudo
isso, um protetor, um tutor, um mentor de renome nacional e, até,
internacional, que, de certa forma, exercia o papel de predecessor político
porque parecia lutar por causas justas e populares (ou impopulares para os
opositores).
A perda de apoio de um mentor político que pretere a
progressão de alguém a favor de outra militante de carreira dos tempos de
clandestinidade pode produzir um choro de ciúme ou um choro de raiva e descontentamento. É como se
sentir abandonado em uma estrada deserta sem ao menos ter em mão uma bússola
para servir de orientação. E qual a reação em casos assim? Aí a compensação do choro resulta em fuga. Fugir de
uma facção (partido) política para outra e outra e outra até achar uma que sirva de muleta. Quebrar regras partidárias ou
ideológicas até conseguir acomodação em um grupo que também já vinha amargando
frustração por não ver cumpridos os acordos políticos realizados entre as
partes no ou do poder. Nessas situações quase sempre pular de partido em
partido é a saída, senão a desistência total de seguir pela estrada (que seja
melhor) que surja e possa alberga-la.
O dia em que Marina chorou enquadra-se nestas metáforas. Pode
ter sido uma jogada ou um choro de pura emoção ou, mesmo, de frustração por se
sentir abandonada pelo seu guru. Um choro de desgosto por sentir-se duplamente
enganada, preterida ou abandonada no passado e rejeitada em suas pretensões
políticas. Pode ser um choro de fingimento para provocar o sentimentalismo
tendo como muleta o acidente aéreo que vitimou seu companheiro de chapa e,
assim, provocar a emoção de uma massa ingênua e crédula, que também chora por
qualquer motivo. Mesmo sem saber as evidências do motivo, porque aceita
qualquer benesse, ainda que não tenha relação com sentimentos verdadeiros ou para
estimular e comover a presença das pessoas, como ocorre com as carpideiras em
um velório que, com um véu negro sobre a cabeça, vertem lágrimas diante do
defunto. Muitas vezes é o quase defunto Brasil que ainda está agonizando; que
ainda acredita em lavadas mentiras como sendo verdades que podem promover a sua
recuperação.
No dia em que Marina chorou foi assim. Todo mundo chorou (ou
quase todos) junto e correram para o abraço e para apoia-la diante dos insultos
do apedeuta, dizendo: “Não se incomode, minha filha, vamos dar o troco para
eles no dia da eleição”. Esta pode ter sido (e acredito que no íntimo da
ingenuidade brasílica foi o que aconteceu) porque o brasileiro é assim: sempre
solidário (como as carpideiras) com a tristeza do outro ou com a alegria por
ter alcançado uma graça. Não importa. O que interessa é estar com a multidão
seja por conhecimento de causa ou não, seja por corrupção ou não. Dane-se o
avião comprado com lavagem de dinheiro. Ninguém está interessado nesse evento
que já passou e como a memória histórica é curtíssima ninguém vai mais se
emocionar por essas evidências. "Se foi assim digo que não sei e que não sabia
de nada" e fica por isso mesmo. A multidão silenciosa sorri e segue o cortejo.
Adeus Brasil. Até a próxima jornada quando tudo começará de novo, com risos,
lágrimas e novos corruptos e corruptores. Vamos seguindo no embalo do gostoso
chorinho bem brasileiro, que se dane a economia: “Não estou nem aí se houver
quebradeira, pois já ganhei prótese dental nova, laqueadura, telhado e blocos,
para recuperar a choupana sem falar que ainda tenho crédito na quitanda de seu
Joaquim com a bolsa quitanda. Para completar, estou na fila para receber um
rancho pelo programa minha casa, minha vida”. Quer mais?
Pão, Paz e Liberdade
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