Gostei de um texto publicado pelo
colega Rosberg Nery Porto,
por isso resolvi mantê-lo na minha linha do tempo no Facebook. Fiz este comentário
em especial porque o autor expõe ideias que tenho compartilhado aqui. Fiz uma
revisão do comentário para publicar neste Blog.
Começo com esta citação de Darcy Ribeiro sobre a visão
antropológica do processo civilizatório do Brasil:
“Poucos
países juntaram, como o Brasil, tijolos e cimentos tão díspares em seu processo
de constituição. Poucos também experimentaram vicissitudes que mostram de forma
tão clara os caminhos pelos quais uma nação pode constituir-se não para servir
a si mesma, mas para atender a interesses alheios. Efetivamente, o Brasil não
nasceu como etnia e se estruturou como nação em consequência d soma dos
desígnios de seus criadores. Surgiu, ao contrário, como uma espécie de
subproduto indesejado e surpreendente de um empreendimento colonial, cujo
propósito era produzir açúcar, ouro ou café e, sobretudo, gerar lucros
exportáveis”. (RIBEIRO, Darcy, In: Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil.
1983, p.19)
Realmente precisamos
fazer uma mudança total no Brasil. Não apenas no futebol, que é, ainda,
nossa melhor maneira de diversão, mas nas instituições como um todo. Mudança
política, econômica, educacional, cultural. Permanecer com esse status quo é passar um atestado público
de cretinice, imbecilidade, mediocridade e, porque não dizer, burrice. Todos
estamos cansados de um viver reativo, que anda para o passado e proclama, na
hora de ganhar o voto do povo, que o "O Brasil é o país do futuro". O
país do futuro não joga com ideias do passado, não fica o tempo todo venerando
reis de futebol e reis de política ideológica como se fosse tábua de salvação.
O Brasil está afundando e os
ratos espertos já pularam deste barco ao abrir suas polpudas contas nos
paraísos fiscais. Nós não temos tsunamis, terremotos, não fomos bombardeados em
nenhuma das guerras que ocorreram no século XX, não temos guerras civis
territoriais nem fundamentalistas, embora tenhamos uma guerra civil urbano-suburbana
desenhada na violência que domina nos grandes centros; mas não temos também
como enfrentar a tecnologia que está à frente em quase todas as áreas de
conhecimento, inclusive no esporte, como pode ser visto nas quebras de
recordes, nas jogadas e passes bem focalizados como se estivéssemos assistindo
a um jogo em vídeo game. Só conseguimos ficar entre as quatro melhores seleções
porque pegamos uma chave que foi salvadora, na qual também só havia seleções,
como a nossa, ainda acreditando que o modelo de futebol jogado há 10, 20 anos
ainda é de qualidade.
Como nos negócios – e o futebol é
um negócio bastante rentável como mostram os números do evento montado aqui
pelos espertos capitalistas da FIFA –, o produto que as seleções produzem e
vendem exigem administração estratégica de qualidade, cujos parâmetros hoje são
bem distintos daqueles utilizados nos anos 70, 80 e 90 do século passado. Hoje
estamos vivenciando uma Administração Estratégica da Qualidade Integral e isto
foi mostrado pelas equipes da Alemanha (7x1) e Holanda (3x0),com um total em
dois jogos de 10 chutes certeiros. E o que tem de comentaristas que ainda comparam
as seleções de ontem com a de hoje.
O mesmo é percebido nos modelos
de gestão empresarial quando nossos empresários com pouca visão empreendedorial
(veja meu livro ALÉM DE SER EMPRESÁRIO SEJA EMPREENDEDOR, www.livrariasaraiva.com.br/produto/7733939)
ficam comparando a qualidade de ontem com a produção de hoje e chorado o leite
derramado como se não tivessem sido avisados de que tudo muda pois nada é
estático; que o mundo anda de forma dinâmica e que o sucesso de ontem já não
representa um modelo fiel para as realizações do presente. O velho e obsoleto
hábito de lidar com commodities enferrujou a inteligência do produtor
brasileiro e se espalhou até nos entretenimentos. Procuraram transformar o
futebol em mais uma commodity exportável e lucrativa como vem sendo feito desde
o tempo pré-colonial e colonial, agora para atender à dominação neocolonial que
ainda olham este país como um mero produtor de bens e serviços para o uso e
abuso dos capitalistas inescrupulosos.
Circulam pelas redes um quadro
comparativo interessante o qual mostra o desempenho científico e tecnológico
dos quatro países finalistas dessa Copa 2014. Dos quatro países o Brasil é o
único que não tem nenhum Premio Nobel. Outro quadro compara itens de
desenvolvimento e desempenho socioeconômico e o Brasil continua perdendo disparado em
relação aos demais. Infelizmente, mesmo contrariando muitos seguidores de
ideologias obsoletas, que insistem em revivê-las como sistema de governança política nacional,
o Brasil ainda não conseguiu sair ou superar o seu momento colonial e se
desvincular do capital feudo-comercial que promoveu a Revolução
Mercantil-Artesanal no Ocidente. Continuamos refém de um monopólio feudalista (com um modelo ruralista modernizado) que se combinou com a burguesia capitalista e que contribui para que sistemas
políticos decrépitos espreitem o nosso modelo constitucional republicano.
Mudanças hoje exigem a
participação de pessoas proativas, com visão de futuro centrada em uma Economia
Orgânica (ou Ecoeconomia como querem alguns estudiosos e Decrescimento
Econômico como insistem outros com posição política ainda com resquício do
velho modelo socialista obsoleto). Neste sentido o Brasil do velho modelo de
futebol e da tradicional política agro-comercial não oferece nenhuma
contribuição que possa avançar para um novo sistema de entretenimento nem para
um sistema socioeconômico e sociocultural capaz de dar uma largada na direção
de um novo século. Sem foco proativo, sem fluxo dinâmico (que o taoismo chama
de zanshin) não conseguiremos
alcançar conclusões que garantam um desenvolvimento político, social e
econômico de valor significativo para um povo que é naturalmente alegre e
brincalhão e que não merece ser explorado pelas elites internacionais e seus
coniventes testas de ferro nacionais.
Pão, Paz e Liberdade
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