NOVAS TECNOLOGIAS, NOVAS EMOÇÕES E NOVA EDUCAÇÃO
(Para o tema Liderança)
O
século 21 está a exigir das pessoas e, por extensão das organizações,
conteúdos, ações e atividades que programem e projetem novas emoções em todas
as áreas de conhecimento, a começar pela Educação,
seguida da Economia, Política, Social, Cultural e Negocial. Não se trata aqui
de rebuscar, repintar ou redesenhar, apenas, as tradições que emocionaram as
pessoas nos últimos milênios, mas introduzir novos apelos emocionadores positivos
que sejam criativos e proativos e tragam para as pessoas cargas importantes de energia emocional otimista.
No
caso específico da Filosofia e da Administração podemos falar de uma Filosofia Emocional e de uma Administração Emocional. Esta última
pode ser estendida para uma Administração Espiritual como parte intrínseca da
Administração Integral agindo em seus principais sistemas e como base do Marketing
Emocional e Espiritual; contudo, sem considerá-lo uma disciplina à parte ou em forma de um fragmento da Administração
em uma área holística de
Conhecimento, de forma que supere os atuais apelos e seja capaz de criar
novos comportamentos em sentido educacional, social, político, econômico e
cultural observando os critérios de transdisciplinaridade.
Uma
frase bastante curiosa que foi pronunciada pelo escritor José Saramago em uma
entrevista na TV, respondendo a uma pergunta do entrevistador, quando este se
referia a sua origem profissional como mecânico de automóvel, foi bem
apropriada para mostrar que tudo muda tudo está a mudar, ou já mudou; contudo a
maneira como nos referirmos às coisas mostra pouco dessas mudanças ou mostra,
sobretudo, como acreditamos que as
pessoas são efetivamente resistentes às mudanças comportamentais.
Disse
o escritor, quando o repórter lhe perguntou se ele ainda seria capaz de
concertar um carro: “Já não sou mais o mesmo, contudo os carros também já não
são os mesmos”. É possível que o escritor desejasse dizer que ele mudou,
avançou no tempo do conhecimento, porém os carros também mudaram e o
conhecimento que ele ainda guarda de mecânica já não poderia atender às
necessidades atuais da nova mecânica de automóvel.
Isto
me faz pensar que a resistência à mudança ou os caminhos e procedimentos
utilizados pela maioria das pessoas no sentido de mudar-se, de transformar-se
têm sido provocadores de desastres e grandes prejuízos para os envolvidos e,
até, para as suas famílias e para o próprio estado. Leva-se em conta, neste
caso, o uso das tecnologias sem que haja uma mudança de comportamento ou uma
educação efetiva para que as populações utilizem esses artefatos.
Assim,
vejo que a tecnologia nas mãos de pessoas inábeis tende, pois, a gerar
prejuízos e perdas irrecuperáveis como a vida humana. Os números (estatísticas)
mostram diariamente ou mensalmente, a depender do impacto que os acidentes
oferecem para o noticiário: os que vitimam pessoas causam mais perdas humanas
que muitas guerras ou conflitos armados. É como dirigir um automóvel como se
fosse uma carruagem. Ambos têm um propósito similar: transportar pessoas ou
coisas, mas são tecnologicamente distintos; mas a população ainda não se deu
conta, pelo menos nessas regiões que estão à margem da Economia do
Conhecimento, portanto obsoletas, que tudo mudou e que existem novas regras,
novas práticas.
As
inabilidades, todavia, retratam bem a Obsolescência Humana segundo os critérios
de uso das tecnologias. Os artefatos desenvolvidos pelas empresas, graças ao
avanço da Economia do Conhecimento, através de seus sistemas humanos competentes essenciais, não são de fácil
uso pelos consumidores e isto fica ainda mais difícil quando os consumidores
são analfabetos tecnológicos, funcionais, estruturais, emocionais, culturais.
Nas
regiões paradoxais os usuários de equipamentos nunca leem os manuais de
operação, sejam eles de artefatos móveis, equipamentos ou automóveis para poder
usá-los com segurança. Certamente esta é mais uma questão educacional e
comportamental que econômica ou financeira para o consumidor, enquanto que para
o produtor não parece haver questão alguma uma vez que ele consegue
comercializar seus produtos muito bem.
Um
bom exemplo aqui é o sistema de obtenção de carteira de habilitação e, mais
ainda, os próprios curso (chamados de Escolas de Habilitação) cujo pessoal,
ditos técnicos de ensino (ou coisa que o valha), às vezes não têm nem um curso
técnico de nível médio completo. Esse pessoal está ensinando o brasileiro a
dirigir carros (e os sistemas oficiais de habilitação como estão estruturados e
como funcionam em sentido educacional e científico?); ensinando a lidar com
tecnologias que eles mal conhecem tanto em sentido prático quanto em sentido
teórico.
Rever
ou reconstruir os modelos organizacionais passa por uma transformação da
Governança Política a fim de poder acompanhar o desempenho da Governança
Corporativa. A tecnologia supera a política e esta fica à mercê das
transformações daquela sem querer promover sua autotransformação. A política
anda a passos de jabuti enquanto a tecnologia anda a passos de lebre. Vale a
pena ler a fábula-metáfora a Lebre e a Tartaruga [http://www.mujeresdeempresa.com/management/management060601.shtml. Consulte-me para receber uma tradução.]
Por
falta de competentes essenciais políticos os donos do poder utilizam-se de
artimanhas ocultas que institui, no país, os esquemas de corrupção que se
alastram por todas as áreas acima citadas. A corrupção não é um caso de
polícia, mas de educação. O mesmo se pode dizer da violência. Investir em
caríssimos equipamentos de alta tecnologia para detectar e corrigir corrupção e
violência é demonstração de falta de Habilidades Essenciais e uma grande miopia
de Filosofia Administrativa (e de Administração Emocional) e de Filosofia
Emocional. Ações como estas mostram que as instituições políticas estão
obsoletas e os modelos atuais não mais têm competências para administrar os
recursos e promover o desenvolvimento do país. Se os gestores públicos
aplicassem os recursos para a educação integral de jovens e adultos em lugar de
aparelhar os órgãos do aparelho político repressor certamente o ganho para a
população e para o país seriam muito maior.
Pela
minha visão, esta é uma questão devida à Obsolescência da Governança Política
dos estados que se submete à Governança Corporativa de um grupo pequeno de
empresas que avançaram no tempo tecnológico. Essas empresas para vender seus
artefatos, procuram “criar uma necessidade” de uso através de um processo
mercadológico intensivo em sublimação; um processo condicionador das pessoas,
qualquer que seja a sua formação intelectual ou sua capacidade e domínio de
conhecimento, a se envolverem emocionalmente e adquirir esses artefatos. Nessas
ocorrências acidentais o que me chama a atenção é o número significativo de
pessoas jovens que são envolvidas em tragédias fatais.
Como
Saramago, eu também comecei com uma profissão: marceneiro. Hoje creio que não
serei mais capaz de construir um móvel considerando o aparato tecnológico que
existe à disposição dos profissionais: desde serras e tupias movidas por
computador até tornos programados e robôs que realizam pinturas, colagens e
acabamentos nas peças, sem considerar que até nas matérias-primas ocorreram
transformações. Precisaria de novas
emoções para realizar novas tarefas
mesmo que o objeto continue sendo o mesmo de antes: a cadeira para sentar, a
mesa para fazer refeições ou escrever, a cama para o descanso ou repouso e
assim por diante.
O
desenvolvimento traz consigo mudanças ou é fruto de mudanças e o
desenvolvimento econômico mostra isto quando usamos hoje, em geral, os mesmos
artefatos de ontem, mas que já são produzidos com instrumentos de produção,
conhecimentos científicos e tecnológicos de amanhã. Instrumentos sofisticados
que, muitas vezes, nem sequer percebemos como os artefatos e os objetos
mudaram, ou como mais mudanças ocorrem em nossa volta.
Como
o tempo tecnológico é mais rápido que o tempo de aprendizagem (poderia até ser
dito, do que o Tempo Pedagógico e o Tempo Andragógico), torna-se, portanto,
necessário uma nova matriz educacional para o país capaz de superar e eliminar
a atual que foi imposta às pessoas antes da arrancada tecnológica da Terceira
Modernidade ou Era Infoeconômica.
No
Brasil, prima-se mais por “reformar” em lugar de “transformar” o mundo (a
sociedade, a política, a economia, a educação, as pessoas). A primeira ação,
normalmente, vem sempre acompanhada de uma maquilagem do produto ou da idéia,
da norma e da lei, das diretrizes e da política com o que ficam mantidas as
velhas emoções. É a fórmula de conservar a tradição sem modificar seu conteúdo;
enquanto a segunda ação realiza uma destruição criativa destes instrumentos de
regulação social e econômica e coloca em ação novas idéias para lidar com novos
produtos ou novas emoções. Sem novas emoções será difícil desenvolver a
curiosidade, a improvisação criativa e a criatividade entre os jovens.
Observem
que, quando não se deseja mudar nada, duas expressões são bastante utilizadas
nas organizações públicas e privadas do país, pelos políticos e empresários
conservadores ou medrosos: comissão e
reforma. Portanto, sempre que se está
em um novo paradigma tecnológico são requeridas novas ações, novas emoções e,
em especial, nova educação e realizar reformas apenas nunca irão resolver as
questões cruciais que demandam novas energias.
Infelizmente,
o velho permanece forte mesmo que novas caras e novas imagens sejam mostradas
ao público. As falhas, os erros e os prejuízos são problemas das novas
tecnologias que foram mal elaboras para o uso popular, eis a grande desculpa. O
novo, neste caso, só é válido se for adaptado ao velho, ou se reduz a não criar
nada que vá mexer com as velhas emoções, no velho paradigma, nas experiências e
práticas passadas.
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